"Escrevo-te porque não me entendo.
Embora escrever só esteja me dando a grande medida do silêncio.
Nada existe de mais difícil do que o entregar-se ao instante. Esta dificuldade é dor humana. É nossa.
Eu me entrego em palavras.
Não sei captar o que existe, senão vivendo cada coisa que surgir e não importa o quê.
Escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra.
O que te escrevo deve ser lido rapidamente como quando se olha.
O que te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.
O que escrevo é um só clímax?
Meus dias são um só clímax. Vivo à beira.
Cada coisa tem um instante em que ela é.
Quero apossar-me do é da coisa.
Porque ninguém me prende mais.
Agora é de novo madrugada.
Ao amanhecer eu penso que nós somos contemporâneos do dia seguinte.
E eu tinha resolvido dormir pra poder sonhar. Estava com saudades das novidades do sonho...
Domingo é o dia de ecos. De onde vem o oco do domingo?
Estou esperando a próxima fase. É questão de segundos.
Falando em segundos, pergunto se você agüenta que seja hoje e agora e já.
Sinto-me tonta como quem vai nascer.
(Você me deixa tonta)
Quero a experiência de uma falta de construção.
Não.
Não é fácil.
Mas é.
E ninguém é eu, ninguém é você. Esta é a solidão.
A palavra mais importante da língua tem uma única letra: é. É.
Sou-me.
Não se compreende música: ouve-se. Ouve-me então com teu corpo inteiro.
Ninguém me ensinou a querer. Mas eu já quero.
Levantei. Porque estou cansada de me defender.
Sou inocente.
Até ingênua porque me entrego sem garantias.
Que garantias?
Respiro de noite a energia. E tudo isto no fantástico.
Fantástico: o mundo por um instante é exatamente o que o coração pede."
C.L. e eu
sábado, março 17, 2007
quinta-feira, março 15, 2007
sexta-feira, fevereiro 02, 2007
Companhia de viagem
Queria tanto ler alguma coisa. Qualquer texto que me fizesse algum sentido e preenchesse o vazio dos outros e o excesso de mim dos últimos dias.
Queria, mas por estar o livro mais próximo a dezenas de quilômetros de mim, resta-me apenas imaginação. Nela garimpo frases perdidas, não escritas... Consigo papel e caneta.
Ponho as palavras pra fora, em seqüência, como quem organiza a própria casa. Fora de casa.
Meu redor são barulhos, são ecos... Sotaques misturados, a margem do rio, Preguiças...
Quando digitar (ou não) esses pensamentos soltos, já longe daqui será no meio de dezenas de livros que vão me encarar invejosos. Essa falta de agora não existirá e talvez todas essas frases não façam mais nenhum sentido.
Não ligo. Por enquanto são pra mim mais que companhia.
Queria, mas por estar o livro mais próximo a dezenas de quilômetros de mim, resta-me apenas imaginação. Nela garimpo frases perdidas, não escritas... Consigo papel e caneta.
Ponho as palavras pra fora, em seqüência, como quem organiza a própria casa. Fora de casa.
Meu redor são barulhos, são ecos... Sotaques misturados, a margem do rio, Preguiças...
Quando digitar (ou não) esses pensamentos soltos, já longe daqui será no meio de dezenas de livros que vão me encarar invejosos. Essa falta de agora não existirá e talvez todas essas frases não façam mais nenhum sentido.
Não ligo. Por enquanto são pra mim mais que companhia.
domingo, janeiro 28, 2007
Sem perguntas, sem respostas
Quando se viaja sozinha, sobra tempo pra pensar em quase de tudo.
Há dias, tenho horas inteiras pra mim. É tanto tempo.
Quando estou distraída, fico prestando atenção... E há tanto pra ver.
Agora mesmo, sorri de repente. Rápido, espontâneo, bonito.
Por alguns segundos, me senti quase feliz.
Mas tenho pensado também em outras coisas, não sou egoísta. Observando as crianças, aprendo com elas.
Pequeninas, elas perguntam tudo. Não tem a vergonha da gente. Elas são curiosas, desbravam enquanto nós, adultos apenas contemplamos nossa falta de curiosidade..
Horas atrás, junto com um grupo de turistas, passeávamos na carroceria de uma caminhonete, em silêncio até que uma garota de uns seis anos fez uma pergunta. Queria saber porque o fogo era vermelho.
A mãe dela desconversou, todo mundo ficou calado, ninguém sabia.
Segundos depois, uma nova tentativa... “Mamãe, porque a gente tá tão longe, e mesmo assim sente o cheiro do fogo?” A resposta mais uma vez foi um pesado silêncio, seguido de uma bronca: “menina, você pergunta demais!”.
Também levei uma bronca, de mim. Como eu desisti dessas e de tantas outras perguntas?
Há dias, tenho horas inteiras pra mim. É tanto tempo.
Quando estou distraída, fico prestando atenção... E há tanto pra ver.
Agora mesmo, sorri de repente. Rápido, espontâneo, bonito.
Por alguns segundos, me senti quase feliz.
Mas tenho pensado também em outras coisas, não sou egoísta. Observando as crianças, aprendo com elas.
Pequeninas, elas perguntam tudo. Não tem a vergonha da gente. Elas são curiosas, desbravam enquanto nós, adultos apenas contemplamos nossa falta de curiosidade..
Horas atrás, junto com um grupo de turistas, passeávamos na carroceria de uma caminhonete, em silêncio até que uma garota de uns seis anos fez uma pergunta. Queria saber porque o fogo era vermelho.
A mãe dela desconversou, todo mundo ficou calado, ninguém sabia.
Segundos depois, uma nova tentativa... “Mamãe, porque a gente tá tão longe, e mesmo assim sente o cheiro do fogo?” A resposta mais uma vez foi um pesado silêncio, seguido de uma bronca: “menina, você pergunta demais!”.
Também levei uma bronca, de mim. Como eu desisti dessas e de tantas outras perguntas?
segunda-feira, novembro 06, 2006
O SONHO DE EDNA

Contar a história de um prédio prestes a ser desocupado - era essa a proposta da reportagem que escolhemos como primeiro desafio. Pelo menos era isso que imaginávamos, há quase um ano, a caminho do edifício Paula Souza, no centro de São Paulo.
Mas logo na primeira visita descobri que o prédio tinha alma e ela era muitas, pelo menos a de 196 famílias que viviam lá. Cada uma com uma história própria e um destino difícil de prever. O desfio aumentava e se multiplicava em cada andar, a cada porta que se abria e dividia conosco o tanto e o quase nada que guardavam.
Num canto, entre a laje do térreo e a do primeiro andar encontrei Edna, uma matogrossense da qual nunca mais esqueceria. Ela dividia o espaço de pouco mais dez metros quadrados com o marido e os quatro filhos. Em visitas diárias, acompanhei por uma semana os preparativos para a mudança, a contagem regressiva para o despejo.
Os filhos de Edna: Ingrid, Israel, Igor e Isadora tinham muitos sonhos, entre eles o maior era voltar pra Campo Grande. Edna só tinha esperança.
Lembro que voltava pra casa pensativa, ansiosa pelo retorno, bagunçada com uma outra mudança – a que acontecia comigo: mudava minha noção de espaço, miséria e força de vontade.
Na época o quadro ainda estava em fase de teste. Só estrearia sete meses mais tarde. As fitas com dezenas de histórias, inclusive a de Edna ficaram no armário, aguardando pelo momento em que seriam contadas. O momento chegou*
No dia 19 de agosto, ainda mais ansiosa reencontrei Edna, desta vez com muitos sonhos e ainda mais esperança. Visitei a casa simples pra qual se mudaram na periferia da cidade. Lá recebi algumas das lições e dos abraços mais sinceros dos últimos meses.
Ela que hoje pensa em voltar a estudar administração e ter um emprego formal me contou o paradeiro dos vizinhos com muito pesar. A maioria não teve a mesma sorte e hoje vive absolutamente sem sonhos sob os viadutos do centro, nas favelas da cidade, ou mesmo em outros prédios ocupados.
Revê-la foi como revisitar aquele prédio, reviver o sentimento de impotência que conheci naquela semana.
Pra quem esperava simplesmente contar a história de uma reintegração de posse, a mudança de planos foi grande.
Assista a reportagem em: http://gmc.globo.com/GMC/1,,2465-p-M573244,00.html
quarta-feira, outubro 25, 2006
DIÁLOGO
- Bebendo de novo!
- A noite tá fria.
(silêncio)
- Tá boa pelo menos?
- Nada. Falta açúcar, pouco gelo. Já tomei melhores.
- Bom, você também já...
- Já.
- De novo...
- De novo, igual. Quer dizer diferente... Hun, admito, foi igual!
- Mais vodca? Te acompanho.
- Não me entenda errado, mas não quero vc por perto.
- Posso esperar no carro?
(...) Ou na cama?
- No carro sim, no quarto não. Me leva pra casa! Mas me faça um outro favor, me deixa dormir sem vc!
(silêncio maior ainda)
- E amanhã?
- Amanhã é de dia e eu me distraio. A noite é que dói.
- Por isso mesmo. Precisa de mim, agora!
- Preciso é de cada nervo descoberto,
(... ) Você já fez dos outros covardes o suficiente pra eu estar aqui. Ou de mim corajosa demais.
- Acha então que a culpa é minha?
- Não, só não me acho.
- Vamos embora? Eu durmo na sala.
- Não sei com quem ficou a chave de casa.
- Precisa de um chaveiro?
- Preciso é de alguém pra pular o meu muro.
- A noite tá fria.
(silêncio)
- Tá boa pelo menos?
- Nada. Falta açúcar, pouco gelo. Já tomei melhores.
- Bom, você também já...
- Já.
- De novo...
- De novo, igual. Quer dizer diferente... Hun, admito, foi igual!
- Mais vodca? Te acompanho.
- Não me entenda errado, mas não quero vc por perto.
- Posso esperar no carro?
(...) Ou na cama?
- No carro sim, no quarto não. Me leva pra casa! Mas me faça um outro favor, me deixa dormir sem vc!
(silêncio maior ainda)
- E amanhã?
- Amanhã é de dia e eu me distraio. A noite é que dói.
- Por isso mesmo. Precisa de mim, agora!
- Preciso é de cada nervo descoberto,
(... ) Você já fez dos outros covardes o suficiente pra eu estar aqui. Ou de mim corajosa demais.
- Acha então que a culpa é minha?
- Não, só não me acho.
- Vamos embora? Eu durmo na sala.
- Não sei com quem ficou a chave de casa.
- Precisa de um chaveiro?
- Preciso é de alguém pra pular o meu muro.
domingo, outubro 22, 2006
Respeitável circo

A missão não era das mais fáceis: encontrar um circo baiano que representasse o melhor da tradição circense nordestina. Como os circos têm que notificar as autoridades para se instalar, comecei fazendo contato com as prefeituras e delegacias de dezenas de cidades no interior da Bahia. Consegui conversar apenas com representantes de circos de médio e de grande porte. Percebi que não era por telefone que conseguiria essa história. A solução foi viajar e produzir a reportagem pessoalmente.
Do avião, eu comecei minha busca: vi um circo lá de cima! Em terra, o encontrei, mas o circo não servia, era grande, muito comercial. Eu queria a rusticidade, a arte pela arte e pela sobrevivência. Viajei para o interior do estado, encontrei circos picaretas, circos que ainda mantêm animais enjaulados em péssimas condições. Num fim de tarde, na periferia da cidade de Eunápolis, no sul da Bahia avistei um palhaço. Ele caminhava sobre pernas de pau e, cercado por crianças, anunciava um espetáculo. Acompanhei o grupo. Instantes depois vi um circo pequeno, armado num campinho de areia, a lona remendada e um tapume como bilheteria.
Fui recebida com hospitalidade. Os artistas que viviam ali eram ainda mais simples que o lugar. Em poucos minutos acabei encantada com as histórias da trupe. Seduzida pela humildade daquela vida que eu só conhecia dos livros e da imaginação: amores, sonhos, precariedade, dor, alegria. Não tive dúvidas, minha busca havia terminado.
No dia seguinte, gravamos.
(Veja a matéria clicando aqui: http://gmc.globo.com/GMC/1,,2465-p-M558788,00.html
quinta-feira, outubro 12, 2006
Gato mia!

Era cedo.
Um grito anunciava o começo do jogo! Com a luz apagada a gente se escondia no quarto e ficava miando até ser encontrada.
No final desses encontros, apostávamos corrida entre dois postes da calçada.
Quem vencia não importava. Os quatro primos sempre ganhavam.
Era muito cedo. Era nossa infância.
Do quarteto, uma amizade era a mais especial: éramos as "primas N", Nádia e Nicolle!
Nos tempos de vida no campo, nos nossos anos mais divertidos, dividimos o que a gente tinha de mais valioso.
A Ni foi minha melhor amiguinha. Juntas, criamos incontáveis brincadeiras... Fomos inventoras, poetas, aventureiras, professoras, desbravadoras de mundos que só a gente conheceu.
Hoje, vasculhando a memória, encontro as passagens secretas de tantos desses universos que não cansávamos de descobrir no meio do mato e... eu queria muito que alguma dessas passagens a trouxesse pra perto de mim.
Não traz.
A única forma possível de reencontro me parecem as palavras.
Queria saber traduzir de alguma forma os rios de lembranças cheios de saudade que inundam a criança que ainda vive dentro de mim – criança que certamente segue com ela. Só nesse encontro consigo chegar um pouco mais perto da menina Nicolle.
Dentro de mim ela corre, e brinca e me sorri como se nada tivesse acontecido nos últimos anos que nos levaram pra longe.
Todas as nossas molecagens me parecem ainda tão reais!
Cada recordação tem cheiro, tem som. É terra, é mato, amoras; barulho de bombinhas, do vento, dos passarinhos, da voz dela concordando comigo... Topando mais uma aventura, a invenção de um novo lugar.
Não lembro quando paramos de apostar corrida na rua. Mas desde lá, nossas vidas seguiram rumos diferentes.
Nossa imaginação fez de mim jornalista, dela arquiteta. Ni escolheu construir realidades, eu contar as histórias do mundo real.
Caminhos parecidos, caminho separado.
Crescemos, nos perdemos, mas isso não importa.
Vejo que ainda que com 26 anos, pra mim nosso tempo não passou. Aqui dentro, a Ni ainda é aquela garotinha corajosa que acreditava sempre em mim e topava qualquer brincadeira!
É como se a gente tivesse parado o tempo na melhor fase da vida, em que fomos somente inocência!
Não por acaso, hoje, ironicamente no dia das crianças ela foi embora, levando qualquer possibilidade de deixar de ser pra mim e pra sempre apenas(?) infância.
Também hoje, descobri que ela ainda me ama. Foi aqui na internet - que sei que era um de seus brinquedos atuais preferidos (ela faz parte de uma comunidade criada pra mim no orkut... Só agora percebi.)
Não tive a oportunidade de dizer a ela que eu também a amo. Nossa amizade nunca foi de declarações, foi ação. Mas sei que ela sabia, sempre soubemos.
Agora no quarto, de noite... Num escuro parecido com o dos tempos do gato mia, escondida da minha própria tristeza, deixo que nossas melhores lembranças me encontrem. Sei que essa é a maneira mais bonita de a gente matar a saudade!
sábado, setembro 09, 2006
VIDA URGENTE

O desafio da equipe era grande: fazer uma reportagem que reconstituísse o acidente na lagoa Rodrigo de Freitas, mostrasse os perigos da mistura álcool e direção e contasse a história de outras vítimas para reforçar o alerta. Tínhamos um mesmo dia pra gravar em três cidades, um mutirão de edição pela frente. E eu tinha um fantasma pra enfrentar.
Começo de madrugada.
Há exatamente um mês, eu tentava me distrair do sono, enquanto meu carro me levava quase sozinho pra casa. Num cruzamento, o cansaço me venceu. O sinal estava fechado e eu só não avancei cegamente contra dezenas de outros automóveis, porque praticamente destruí o meu carro num veículo que havia respeitado o sinal. Foi essa a lembrança que me acompanhou durante toda a semana.
A cada desabafo dos pais das vítimas em Porto Alegre, eu ouvia os meus próprios pais. A cada história interrompida de gente jovem como eu, era inevitável repensar minha própria história: momentos como os do acidente e tantos outros em que dirigi ou andei com amigos sem condições pra levar o carro com segurança. Há reportagens que mudam o mundo. Há também aquelas que, antes disso, mudam quem as faz. Desta vez foi assim.
* O projeto VIDA URGENTE funciona em Porto Alegre, mas mantêm grupos em várias partes do país. Para saber mais acesse: www.vidaurgente.com.br
** Assista a matéria: http://gmc.globo.com/GMC/1,,2465-p-M537413,00.html
segunda-feira, setembro 04, 2006
...

Há horas que dão início a meses.
Copos que fermentam revoluções,
Idéias, ainda que contraditórias, que se completam.
Pedem mais horas, mais meses, mais anos...
Há paixões possíveis, ainda que inviáveis.
Reinventáveis, inesgotáveis...
Há beijos, não beijos
Assunto de sobra.
Rotina que falta!
Acordos e desacordos,
consenso.
Pra tanta inocência,
há também parquinhos!
Montanha-russa, trem fantasma
Sustos, sobe-desce, frio na barriga...
Desafios a física!
Há adolescência!
Encontros quase infantis
Desejos?
E há, sobretudo amizade.
(Cumplicidade pra toda vida, por esse crime que: não? cometemos.)
domingo, agosto 13, 2006
Profissão mulher

Defendi a reportagem desde a primeira reunião de pauta do quadro, em abril. Foram meses esperando a hora certa de sair a campo... Quando finalmente cheguei no Recife, achava que estava preparada... Me enganei. Logo na primeira entrevista, com as mulheres do apitaço, fiquei com medo! Só ali e naquele momento, testemunhando a força daquelas pernambucanas senti o tamanho da responsabilidade do que estávamos fazendo.
Com o passar dos dias e a convivência com outras histórias de grito e silêncio... O medo foi virando coragem. Coragem pra traduzir a dor das famílias que perderam mães, filhas, irmãs... Coragem pra ouvir a voz dos agressores.
Foram dias de entrega em que digeri como pude a revolta da Nádia mulher, da Nádia jornalista, da Nádia feminista.
Cresci ouvindo de mulheres que amo e admiro, histórias de violência doméstica. Foi impossível não levá-las comigo a delegacia, a periferia de Caruaru, a Olinda... Essas vítimas - as de minha memória e as ainda presentes - me acompanharam por todo lugar. Se identificaram com muitas das dores que testemunhei e sem dúvida me ajudaram a merecer a confiança das donas dos gritos; silenciosos, ou não.
Ao registrar a ousadia dessas novas vítimas, que não se esconderam em nenhum momento da nossa câmera, de alguma forma senti que além de dar voz a suas angustias, também dividi com elas meu próprio inconformismo.
No jornalismo se discute muito a imparcialidade. Nessa reportagem assumo, fui parcial! Não poderia agir de outro jeito; afinal antes de ser repórter sou mulher! Essa é uma vantagem do quadro, ele te permite ser humano; com suas convicções e vivências, sem deixar de ser repórter.
Talvez não seja possível mudar o mundo simplesmente com histórias e palavras... Mas saio dessa reportagem com mais certeza, de que se elas ajudarem as pessoas a identificarem sua situação de opressão e lhes derem informação como arma pra reagir, o trabalho valeu a pena.
Assista a reportagem: http://gmc.globo.com/GMC/1,,2465-p-M521044,00.html
domingo, agosto 06, 2006
Parada obrigatória
Quando a gente acelera demais, a vida dá um jeito de obrigar a gente a parar. E... Ontem foi dia.
Bati o carro chegando em casa, fatigada, dormindo ao volante.
Com o susto e o estrago eu devia ter ficado nervosa. Não fiquei.
Uma calma de quem sabe que o mundo não pára por acaso tomou conta de mim.
O tempo segue me atropelando, mas o recado tá dado. Se eu quiser sobreviver a velocidade dos dias é melhor me manter viva, acordada e descansada... Principalmente de noite.
Bati o carro chegando em casa, fatigada, dormindo ao volante.
Com o susto e o estrago eu devia ter ficado nervosa. Não fiquei.
Uma calma de quem sabe que o mundo não pára por acaso tomou conta de mim.
O tempo segue me atropelando, mas o recado tá dado. Se eu quiser sobreviver a velocidade dos dias é melhor me manter viva, acordada e descansada... Principalmente de noite.
quarta-feira, julho 19, 2006
Há quase um mês...
A vontade de escrever me persegue, mas faltava atitude.
Pra comemorar esse reencontro apaixonado, hoje não vou falar nem de palavras, nem de trabalho. Quero contar uma história, daquelas bobas, gostosas de ouvir.
Do tipo que começa com era uma vez...
E de fato era...
Um dia há muito tempo, duas crianças brincavam de patinar na neve.
Felizes? Talvez. Mas certamente alegres, pois fazia sol e era inverno - a gente sempre se alegra, ainda que triste quando faz sol no inverno.
Também é certo que se divertiam, porque não há como não se divertir em boa companhia quando somos anjos inocentes. Enfim, brincavam até que o gelo sobre o lago rompeu e uma delas caiu e ficou submersa.
Ao ver a amiga presa, a pequena colega se desesperou e tentou ajudá-la. Quase sem forças, porque de fato era muito pequenina, a menina tirou um dos patins e começou a golpear o gelo.
Golpeava e gritava por socorro, golpeava e gritava.
Até que conseguiu... Salvou a amiga.
Nesse momento a ajuda chegou. Vizinhos assustados com os gritos correram para o local. Surpresos buscavam, sem sucesso entender como uma criança tão frágil podia ter conseguido tal feito: romper uma grossa barreira de gelo e salvar a amiguinha.
Passaram muito tempo discutindo, enquanto a garota se aquecia.
Ninguém parecia ter explicação até que um sábio que passava pelo local se intrometeu na convesa e esclaresceu a questão. Ele disse: a resposta é simples, a menina conseguiu salvar a amiga porque não havia ninguém por perto pra lhe dizer o que ela não era capaz de fazer.
Sábia resposa!
Adoro essa história.
Um conto simples, delicado.
Por sem/cem razões, tenho pensado muito nele nos ultimos dias.
Pra comemorar esse reencontro apaixonado, hoje não vou falar nem de palavras, nem de trabalho. Quero contar uma história, daquelas bobas, gostosas de ouvir.
Do tipo que começa com era uma vez...
E de fato era...
Um dia há muito tempo, duas crianças brincavam de patinar na neve.
Felizes? Talvez. Mas certamente alegres, pois fazia sol e era inverno - a gente sempre se alegra, ainda que triste quando faz sol no inverno.
Também é certo que se divertiam, porque não há como não se divertir em boa companhia quando somos anjos inocentes. Enfim, brincavam até que o gelo sobre o lago rompeu e uma delas caiu e ficou submersa.
Ao ver a amiga presa, a pequena colega se desesperou e tentou ajudá-la. Quase sem forças, porque de fato era muito pequenina, a menina tirou um dos patins e começou a golpear o gelo.
Golpeava e gritava por socorro, golpeava e gritava.
Até que conseguiu... Salvou a amiga.
Nesse momento a ajuda chegou. Vizinhos assustados com os gritos correram para o local. Surpresos buscavam, sem sucesso entender como uma criança tão frágil podia ter conseguido tal feito: romper uma grossa barreira de gelo e salvar a amiguinha.
Passaram muito tempo discutindo, enquanto a garota se aquecia.
Ninguém parecia ter explicação até que um sábio que passava pelo local se intrometeu na convesa e esclaresceu a questão. Ele disse: a resposta é simples, a menina conseguiu salvar a amiga porque não havia ninguém por perto pra lhe dizer o que ela não era capaz de fazer.
Sábia resposa!
Adoro essa história.
Um conto simples, delicado.
Por sem/cem razões, tenho pensado muito nele nos ultimos dias.
terça-feira, junho 13, 2006
Santo Antonio,
Eu queria um namorado que não fosse bem um namorado!
Queria um presente diferente...
Algo assim, que venha sem o selo chato das convenções, sem garantias e que me ajude a reinventar as regras. Todas!
Alguém imprevisível, que surpreenda, me conteste, me questione.
Ah... E que em vez de certezas, me dê apenas abraços e frio na barriga.
Queria um presente diferente...
Algo assim, que venha sem o selo chato das convenções, sem garantias e que me ajude a reinventar as regras. Todas!
Alguém imprevisível, que surpreenda, me conteste, me questione.
Ah... E que em vez de certezas, me dê apenas abraços e frio na barriga.
segunda-feira, junho 05, 2006
Julgamento de quem?

Era a minha primeira cobertura de um julgamento, era a primeira vez que eu entrava num tribunal. Depois de me inscrever junto com outras cinco mil pessoas para ocupar um dos 80 lugares do plenário, destinados ao público e não ser sorteada, eu estava quase conformada com a idéia de acompanhar tudo do lado de fora. Quase.
Minha missão era mostrar a movimentação de curiosos, no circo armado para o julgamento. Com a chegada dos sorteados, entrei no fórum, despretensiosamente. Meu objetivo era conversar com alguns deles, saber quem eram essas pessoas e marcar algumas entrevistas pra depois da sessão, mas me surpreendi. Sobraram vagas. A imprensa estava toda lá fora e eu era a única ali dentro, a única que sabia disso!
Há dias, centenas de jornalistas se acotovelavam por uma das poucas credenciais disponíveis, quase enlouqueceram a assessoria de imprensa do Tribunal de Justiça... De repente, algo muito melhor que a tal credencial estava ali diante de mim e só de mim!
Acompanhei a sessão de perto. O espaço reservado aos jornalistas ficava ao fundo, do lado oposto ao das cadeiras ocupadas por Suzane e os irmãos Cravinhos. O meu ficava bem diante deles, de seus advogados de defesa e no meio do público. Os curiosos, meus entrevistados, nessa altura já meus quase-conhecidos eram o meu termômetro. Como num estádio de futebol em dia de decisão, vaiavam, aplaudiam e torciam, mais pela não-desmoralização da justiça do que pela condenação dos três réus confessos. Havia um clamor por acreditar que dessa vez não seriam permitidas manobras, que haveria uma reação, uma forma de ela-justiça provar que pode ser soberana. Não foi.
O julgamento foi adiado e são muitos os recursos que podem ser usados para que no dia 17 de julho, o mesmo aconteça. Resta a certeza, de que haverá um novo circo, com os mesmos expectadores e a mesma torcida. Meu ingresso, está garantido.
Veja a reportagem: http://gmc.globo.com/GMC/1,,2465-p-M479742,00.html
domingo, maio 28, 2006
Fellini, o sábio e o meu jornalismo
"Nunca pensei em me tornar diretor, mas a primeira vez que entrei num estúdio e gritei: luz, câmera, ação, corta! Percebi que aquilo era eu, aquela era a minha vida." A frase é de Frederico Fellini, diretor italiano, mas é na minha cabeça que ela tem reverberado muitas vezes nos últimos tempos.
Escolher uma vocação é das missões mais difíceis. Talvez porque não exista escolha, é ela que escolhe você.
Sempre gostei de ouvir e contar histórias. Quando pequena ouvia muitas e a exaustão. Não contente com as infantis - destinadas a mim, exercitava o silêncio e a atenção para ver o que diziam as vozes por trás das portas, em mesas distantes, na ruas... Depois, contava para mim mesma, repetidas vezes todas elas... Misturava os pedaços, as deixava parecer ainda mais interessantes...
Lembro da alegria de ganhar meu primeiro gravador. Um brinquedo enorme pra uma criança. Daqueles antigos, grandes e coloridos. Encantador! Era como se finalmente eu pudesse eternizar as histórias, que eu achava tão importantes... E ainda podia multiplicar meus ouvintes.
Caprichava! Contava cada uma com emoção, realismo. Pedia ajuda aos adultos, as outras crianças. Gravava as participações e recheava cada momento de barulhos que inventava com as coisas mais simples... Eram passos, batidas de porta, apertões no cachorro, panelaços... Adorava o resultado... Ouvia ansiosa, mostrava pra todo mundo e escondia as fitas...
De tão escondidas - para uma posteridade que eu imaginava que viria - a maioria delas se perdeu. Mas a magia não.
A primeira vez que eu vi uma gravação de tv e senti o poder de contar histórias que aquela coisa tinha foi como reencontrar com meu velho gravador e minhas fitas perdidas... Melhor! Não era mais necessário inventar. As histórias reais podiam ser captadas com imagem e som originais. De novo, era eu ali... Aquilo era a minha vida!
Tantos anos depois, ao entrar duma vez em dezenas de milhões de casas e falar diretamente ao coração de tantos outros milhões de pessoas... Tive a mesma certeza que, ainda criança eu já tinha. A certeza de Fellini.
Como se não bastasse... Dia desses tive tal certeza confirmada por um outro sábio. Nos encontramos quase sem querer no Parque do Ibirapuera. Ele, um velhinho, corria... Eu deitada na rede, lendo chamei a atenção dele. Conversamos com a verdade com que só os estranhos, ou quase-estranhos conversam... Depois de uma hora de aula de filosofia e metafísica, perguntei a esse homem - que certamente eu nunca mais verei – qual era a maior lição que a vida havia lhe ensinado.
(Eu e minhas perguntas!)
Ele respondeu, sem hesitar: "a sensação de feedback! Seja qual for a pergunta, as respostas estão todas por aí, só precisamos reconhece-las. Quando encontramos algo que fala ao nosso coração e responde na mesma intensidade as nossas expectativas naquele momento mágico, as peças do quebra-cabeça se reconhecem, se encaixam. E... isso é simples, como olhar no espelho."
Feedback...
Para mim e para esses dois sábios... É essa a tal mágica da vida!
Escolher uma vocação é das missões mais difíceis. Talvez porque não exista escolha, é ela que escolhe você.
Sempre gostei de ouvir e contar histórias. Quando pequena ouvia muitas e a exaustão. Não contente com as infantis - destinadas a mim, exercitava o silêncio e a atenção para ver o que diziam as vozes por trás das portas, em mesas distantes, na ruas... Depois, contava para mim mesma, repetidas vezes todas elas... Misturava os pedaços, as deixava parecer ainda mais interessantes...
Lembro da alegria de ganhar meu primeiro gravador. Um brinquedo enorme pra uma criança. Daqueles antigos, grandes e coloridos. Encantador! Era como se finalmente eu pudesse eternizar as histórias, que eu achava tão importantes... E ainda podia multiplicar meus ouvintes.
Caprichava! Contava cada uma com emoção, realismo. Pedia ajuda aos adultos, as outras crianças. Gravava as participações e recheava cada momento de barulhos que inventava com as coisas mais simples... Eram passos, batidas de porta, apertões no cachorro, panelaços... Adorava o resultado... Ouvia ansiosa, mostrava pra todo mundo e escondia as fitas...
De tão escondidas - para uma posteridade que eu imaginava que viria - a maioria delas se perdeu. Mas a magia não.
A primeira vez que eu vi uma gravação de tv e senti o poder de contar histórias que aquela coisa tinha foi como reencontrar com meu velho gravador e minhas fitas perdidas... Melhor! Não era mais necessário inventar. As histórias reais podiam ser captadas com imagem e som originais. De novo, era eu ali... Aquilo era a minha vida!
Tantos anos depois, ao entrar duma vez em dezenas de milhões de casas e falar diretamente ao coração de tantos outros milhões de pessoas... Tive a mesma certeza que, ainda criança eu já tinha. A certeza de Fellini.
Como se não bastasse... Dia desses tive tal certeza confirmada por um outro sábio. Nos encontramos quase sem querer no Parque do Ibirapuera. Ele, um velhinho, corria... Eu deitada na rede, lendo chamei a atenção dele. Conversamos com a verdade com que só os estranhos, ou quase-estranhos conversam... Depois de uma hora de aula de filosofia e metafísica, perguntei a esse homem - que certamente eu nunca mais verei – qual era a maior lição que a vida havia lhe ensinado.
(Eu e minhas perguntas!)
Ele respondeu, sem hesitar: "a sensação de feedback! Seja qual for a pergunta, as respostas estão todas por aí, só precisamos reconhece-las. Quando encontramos algo que fala ao nosso coração e responde na mesma intensidade as nossas expectativas naquele momento mágico, as peças do quebra-cabeça se reconhecem, se encaixam. E... isso é simples, como olhar no espelho."
Feedback...
Para mim e para esses dois sábios... É essa a tal mágica da vida!
quinta-feira, maio 25, 2006
Visitantes ilustres...
Tenho conversado muito com personagens históricos da minha vida, mesmo quando estou só. E e ando bem só...
Eles me procuram. Me contam segredos, me provocam. São como alucinações. Mas não são.
Eles preferem os sonhos.
Aparecem dentro de mim, ainda dormindo e seguem comigo por horas... Outros, mais atrevidos surgem já de dia, ou no começo da noite... De repente, no trânsito, ou mesmo pra me fazer companhia durante um café, ainda que acompanhada.
Às vezes conversamos, outras simplesmente ficamos em silêncio... Descubro como foram os últimos dias – deles, meus personagens. Que outras histórias andam vivendo, o que pensam sobre as manchetes do noticiário, se mudaram o corte de cabelo e... suas impressões sobre meu novo trabalho.
Certas visitas são tão reais que deixam qualquer coisa no ar, na boca, nos braços... Sim, sem perceber matamos saudades!
Eles vem sempre sozinhos. Amigos, mas principalmente amores. Um de cada vez... Uns bem mais de uma vez, é verdade!
Os vividos, e os que se perderam antes mesmo de acontecer. São visitas confusas, quase encantadas.
Juntos eu, passado e futuro caminhamos no agora, atemporais.
Passa uma borboleta... É amarela!
Voamos com ela. Tudo é só ali e tão honestamente bom - apesar de fugaz - que eles, os dias passam leves e velozes como elas, as asas da borboleta.
Eles me procuram. Me contam segredos, me provocam. São como alucinações. Mas não são.
Eles preferem os sonhos.
Aparecem dentro de mim, ainda dormindo e seguem comigo por horas... Outros, mais atrevidos surgem já de dia, ou no começo da noite... De repente, no trânsito, ou mesmo pra me fazer companhia durante um café, ainda que acompanhada.
Às vezes conversamos, outras simplesmente ficamos em silêncio... Descubro como foram os últimos dias – deles, meus personagens. Que outras histórias andam vivendo, o que pensam sobre as manchetes do noticiário, se mudaram o corte de cabelo e... suas impressões sobre meu novo trabalho.
Certas visitas são tão reais que deixam qualquer coisa no ar, na boca, nos braços... Sim, sem perceber matamos saudades!
Eles vem sempre sozinhos. Amigos, mas principalmente amores. Um de cada vez... Uns bem mais de uma vez, é verdade!
Os vividos, e os que se perderam antes mesmo de acontecer. São visitas confusas, quase encantadas.
Juntos eu, passado e futuro caminhamos no agora, atemporais.
Passa uma borboleta... É amarela!
Voamos com ela. Tudo é só ali e tão honestamente bom - apesar de fugaz - que eles, os dias passam leves e velozes como elas, as asas da borboleta.
sábado, maio 20, 2006
Profissão bóia-fria

Foram quatro viagens em busca da notícia. Quatro mil quilômetros de estrada para chegar perto dum universo de exploração, parecido com o das roças de quinhentos anos atrás.
Viagem de carro, viagem no tempo!
A grandeza da indústria esconde a dor de homens, que aos milhares cortam em média dez toneladas de cana por dia. Trabalho sob sol quente, quase nenhuma proteção e em troca de pouco dinheiro.
Depois de algumas tentativas, conseguimos emprego sem registro e sem equipamentos de segurança. Um ônibus caindo aos pedaços nos aguardava pouco depois das cinco da manhã. Deixou-nos na beira de uma estrada, de onde nossos patrões nos levaram até o local do corte. Tudo a base do disfarce e da superação do medo, inimigo bem forte.
Lá, cerca de cinqüenta homens aguardavam sobre o frio do dia que nasce, pelo sol que logo nos acompanharia até o fim da jornada. Eu era a única mulher e o que por um lado me encheu de orgulho, também aumentou a sensação de insegurança.
Olhares desconfiados, cabeças baixas e... Muita oração!
Trabalhamos por pouco mais de duas horas, cortamos - em dois - meia tonelada de cana, o equivalente em dinheiro, a um real.
Registramos a dureza do trabalho e em que condições os cortadores sobrevivem. Exaustos e acreditando que a missão havia sido cumprida, fugimos pela estrada na companhia do medo, aquele... Mas nessa altura já muito pior, de sermos descobertos.
Ainda hoje me pego calculando o tamanho do risco e da crueldade da roça. O corpo dolorido, mal se controlava. Braços e pernas não obedeciam. Sem controle, no estágio anterior as câimbras, simplesmente doíam.
Quando penso no que poderia ter acontecido se nosso disfarce de bóias-frias fosse descoberto, gelo na espinha. Ali, longe da cidade, a quilômetros de qualquer autoridade... Fomos malucos, sabemos. Mas era esse o único jeito.
Ainda penso muito nas engrenagens do sistema de exploração que transforma quase todos os seus personagens em vítimas, ainda que vilões. Me sinto triste, quase impotente.
Agora, prestes a ver o resultado, sei, ansiosa... que talvez seja pretensão demais achar que essa loucura que fizemos possa mudar a crueza do corte, regras que imperam nos nossos canaviais desde nossa colonização. Mas gosto de pensar que revelamos pelo menos um pouquinho de onde essa ferida brasileira, quase esquecida, dói e durmo tranquila.
** Veja a reportagem: http://gmc.globo.com/GMC/1,,2465-p-M462182,00.html
Segunda parte: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM462182-7823-PROFISSAO+REPORTER+UM+DESAFIO+NA+COLHEITA+DA+CANA,00.html
quarta-feira, maio 10, 2006
Psicografia das estrelas
Não importa a cor do céu, ou a densidade das nuvens...
Mesmo que não as enxergue, elas estão lá. Sempre estarão.
Ver as estrelas tem pouco a ver com visão, é pura capacidade de enxergar.
Tenho muitos sonhos. Talvez tantos quanto as estrelas, que às vezes, confesso, nem percebo.
E há dias nublados em que fica difícil acreditar. Nessa hora duvido deles, até delas, as estrelas.
Nesses dias e principalmente nessas noites milagres acontecem!
Do escuro nascem luzinhas invisíveis à primeira vista.
Faco silêncio para ouví-las, barulhentas.
Sopram palavras quase sem sentido, que ventam no ir e vir dos meus pensamentos.
Aí brincamos...
Sonhamos acordadas, eu e elas. Sábias palavras mudas!
Na bagunça desse barulho que não me cabe, eu que tanto falo sou toda silêncio na noite.
(As estrelas de Sacramento MG)
Mesmo que não as enxergue, elas estão lá. Sempre estarão.
Ver as estrelas tem pouco a ver com visão, é pura capacidade de enxergar.
Tenho muitos sonhos. Talvez tantos quanto as estrelas, que às vezes, confesso, nem percebo.
E há dias nublados em que fica difícil acreditar. Nessa hora duvido deles, até delas, as estrelas.
Nesses dias e principalmente nessas noites milagres acontecem!
Do escuro nascem luzinhas invisíveis à primeira vista.
Faco silêncio para ouví-las, barulhentas.
Sopram palavras quase sem sentido, que ventam no ir e vir dos meus pensamentos.
Aí brincamos...
Sonhamos acordadas, eu e elas. Sábias palavras mudas!
Na bagunça desse barulho que não me cabe, eu que tanto falo sou toda silêncio na noite.
(As estrelas de Sacramento MG)
domingo, abril 23, 2006
Cana: primeira viagem

Foram cinco dias de sol quente, estrada e dum universo que, apesar das câmeras, só consegui captar mesmo na memória.
Ser quase-bóia-fria me mostrou onde dói o corte da cana.
Pequenos detalhes de milhares de anônimos. Gente que acorda antes da maioria do mundo e adormece enquanto o sol ainda se põe.
Esses heróis e heroínas armados com pouco mais que coragem enfrentam todos os dias o aspecto menos doce da cadeia da cana. Sete, oito, doze horas por dia, seis vezes por semana.
Para as mulheres, o sufoco é maior. Elas são minoria, são resistência.
Guerreiras, enfrentam as regras cada vez mais severas de produtividade, a tripla jornada: são mães, donas de casa e bóias-frias.
O corte que tira do campo uma das maiores riquezas do país também é corte de vida. Ela escorre pelos dez litros de suor de cada jornada, se perde nas quase trezentas mil repetições de movimentos: abraçar a cana, curvar-se sobre os joelhos, golpear embaixo, depois em cima e carregar o que sobra para o eito central.
A armadura de trabalho inclui uma composição de bota e caneleira que lembra a dos cavaleiros medievais. Medievais como os métodos de produção...
Viagem no tempo:
Campo de concentração?
Escravidão?
Cem anos depois da lei Áurea, quem cuida da turma ainda é o feitor. Cada um deles é responsável por quarenta homens, que controlam sem chibata, apenas com instrumentos métricos. Com eles calculam a área cortada, multiplicam cada metro quadrado de cana por treze, quatorze centavos... Nessa conta, esquecem de contabilizar uma ou outra tonelada e ao fim do dia não é preciso tronco algum: o castigo está dado e bem distribuído.
** Veja a reportagem: http://gmc.globo.com/GMC/1,,2465-p-M458204,00.html
segunda-feira, abril 17, 2006
Profissão: repórter
Contar histórias é antes de tudo um exercício de olhar. E quanto mais seu e mais parcial ele for, mais honesta será a reportagem.
A maioria dos teóricos defende o contrário. Eles que me perdoem, mas já há analistas demais no mundo! Gente que vive de cruzar dados, equilibrar pontos de vista, criar verdades genéricas de dentro de um escritório... Meu jeito de reportar consiste em olhar, ir até onde nasce a notícia e sentir onde aquilo me dói... Depois contar tudo do jeitinho que aconteceu, pra mim. Quase um ato antropofágico! Engolir e traduzir o fato com cada nuance e cada interpretação que só eu e minha experiência de mundo é capaz.
É como emprestar um instrumento óptico pra alguém enxergar o que está bem longe, ou bem perto... Permitir se conhecer pelo seu modo de ver e dar o testemunho que apenas você pode dar. Junto com ele vão seus medos, sua vivência, sua infância, seu caráter ou sua falta de caráter... É disso que o público gosta! O encantamento do jornalismo está nesse jeito único do repórter contar uma história. Nada tem a ver com a frieza hipocritamente imparcial que recheia a maioria das páginas de jornal, ondas do rádio e de televisão.
Começamos essa semana as gravações do programa... E o que mais me fascina é a possibilidade que ele oferece aos repórteres de exercitar seu olhar. Os temas serão explorados sob diversos pontos de vista. Cada um de nós dará voz a um deles.
Da soma das parcialidades, o telespectador poderá tirar suas próprias conclusões – e enquanto isso, eu devo me divertir bastante defendendo ou atacando, sem medo de ser parcial, cada um de meus personagens.
Que venham as grandes histórias!
A maioria dos teóricos defende o contrário. Eles que me perdoem, mas já há analistas demais no mundo! Gente que vive de cruzar dados, equilibrar pontos de vista, criar verdades genéricas de dentro de um escritório... Meu jeito de reportar consiste em olhar, ir até onde nasce a notícia e sentir onde aquilo me dói... Depois contar tudo do jeitinho que aconteceu, pra mim. Quase um ato antropofágico! Engolir e traduzir o fato com cada nuance e cada interpretação que só eu e minha experiência de mundo é capaz.
É como emprestar um instrumento óptico pra alguém enxergar o que está bem longe, ou bem perto... Permitir se conhecer pelo seu modo de ver e dar o testemunho que apenas você pode dar. Junto com ele vão seus medos, sua vivência, sua infância, seu caráter ou sua falta de caráter... É disso que o público gosta! O encantamento do jornalismo está nesse jeito único do repórter contar uma história. Nada tem a ver com a frieza hipocritamente imparcial que recheia a maioria das páginas de jornal, ondas do rádio e de televisão.
Começamos essa semana as gravações do programa... E o que mais me fascina é a possibilidade que ele oferece aos repórteres de exercitar seu olhar. Os temas serão explorados sob diversos pontos de vista. Cada um de nós dará voz a um deles.
Da soma das parcialidades, o telespectador poderá tirar suas próprias conclusões – e enquanto isso, eu devo me divertir bastante defendendo ou atacando, sem medo de ser parcial, cada um de meus personagens.
Que venham as grandes histórias!
sábado, abril 15, 2006
Apenas um sonho?
Chegou e veio caminhando devagar. Os olhos atentos, as mãos sem jeito, ora dentro, ora fora do bolso. De certo me procurava. Torcia por isso. Eu seguia ali, parada. O copo quase vazio. Ergui a cabeça e lhe encarei como que se quisesse chamar a atenção. E queria. Foram vinte, talvez trinta segundos de espera e eles se encontraram. Primeiro os olhos, depois o silêncio - ávido por saber o que dizer.
Vinha agora em minha direção devagar. O mesmo sorriso tímido, que eu havia imaginado tantas e tantas vezes. Não! Era ainda mais lindo! A euforia era tanta que eu mal me cabia. Respiração ofegante. Passos. A distância diminuía. Levantei e sem saber o que fazer, ofereci um abraço. Ficamos imóveis. Finalmente estávamos ali, tínhamos ido tão longe e ainda tínhamos tanto...
Nos conhecíamos pouco, de vista, de oi... Até o dia em que nos aproximamos. Era noite e era um sonho.
Eu caminhava pela Vila. Não sei de onde eu vinha, mas já andava há muito tempo. Um carro parou e de dentro, veio a oferta da carona. Aceitei. Seguimos conversando, como se nos conhecêssemos muito. Rimos à beça. Desci em casa feliz e só então descobri que sonhara.
Dias depois do sonho estávamos ali. Tudo por ser dito. Sem saber como e o quanto. Sorri, sorrimos.
Pedimos batata frita?
Vinha agora em minha direção devagar. O mesmo sorriso tímido, que eu havia imaginado tantas e tantas vezes. Não! Era ainda mais lindo! A euforia era tanta que eu mal me cabia. Respiração ofegante. Passos. A distância diminuía. Levantei e sem saber o que fazer, ofereci um abraço. Ficamos imóveis. Finalmente estávamos ali, tínhamos ido tão longe e ainda tínhamos tanto...
Nos conhecíamos pouco, de vista, de oi... Até o dia em que nos aproximamos. Era noite e era um sonho.
Eu caminhava pela Vila. Não sei de onde eu vinha, mas já andava há muito tempo. Um carro parou e de dentro, veio a oferta da carona. Aceitei. Seguimos conversando, como se nos conhecêssemos muito. Rimos à beça. Desci em casa feliz e só então descobri que sonhara.
Dias depois do sonho estávamos ali. Tudo por ser dito. Sem saber como e o quanto. Sorri, sorrimos.
Pedimos batata frita?
terça-feira, abril 04, 2006
Por um mistério difícil de entender...
As criaças sorriem em média 300 vezes por dia.
Um adulto, com sorte, sorri 30!
Por um outro mistério, deliciosamente também sem explicação, ou simplesmente por causa dessa coisa fofa que me aconteceu, hoje dei muito mais de 300 sorrisos...
Um adulto, com sorte, sorri 30!
Por um outro mistério, deliciosamente também sem explicação, ou simplesmente por causa dessa coisa fofa que me aconteceu, hoje dei muito mais de 300 sorrisos...
segunda-feira, março 20, 2006
Pontos, vírgulas e reticêcias
Um encontro sem busca é quase tão inútil quanto uma busca sem encontro.
Foram dias de quase presença, dentro de semanas de ausência e hoje, só hoje descobri o que já sabia... Ao ouvir o que sempre quis de quem eu definitivamente não quero... (E as consequências assustadoras do ciúme de quem nem imagina o quanto nunca quis o que acham que quero.)
Pontuar é um recurso fundamental não só na escrita, mas na vida. Saber colocar as vírgulas e os pontos nos locais certos deixam o enredo seguir com mais sentido. Isso faz muito bem aos personagens da trama e a quem a escreve também!
Uma outra conversa - de um outro encontro, esse sim! - ajudou. Foi grande o exercício de pontuação... E quando a gente aprende a escrever capítulos importantes, fica infinitamente mais fácil resolver os pequenos adendos - por mais assustadores que eles pareçam...
Discussões sinceras confirmam figuras como essenciais na novela da gente... Também espantam outras pra bem longe! A vida é assim, que nem ficção... Certos personagens se perdem pelo caminho, alguns surgem só de passagem, outros ficam... Mesmo que mudem de papel e sigam se transformando...
Eu? Escritora e protagonista... Às vezes me perco no meio deles...
Passei susto nas últimas linhas... Tive que pontuar de novo!
Pontuei... (Isso dá um trabalho!)
Descobri neste fim de quase capítulo, novos inícios... Reinvenções que são a única possibilidade do eterno - que apesar de não existir, tanto me fascina.
Sigo na busca... Ainda que por vezes inútil!
Monto meu forte e afasto a pontapés os inimigo que tentam me invadir!
(Invasão boa é invasão consentida! E é só dessa que gosto!)
Com pontos, vírgulas, palavras e silêncio enfrento as ameaças... Venham elas de dentro ou de fora de mim!
Foram dias de quase presença, dentro de semanas de ausência e hoje, só hoje descobri o que já sabia... Ao ouvir o que sempre quis de quem eu definitivamente não quero... (E as consequências assustadoras do ciúme de quem nem imagina o quanto nunca quis o que acham que quero.)
Pontuar é um recurso fundamental não só na escrita, mas na vida. Saber colocar as vírgulas e os pontos nos locais certos deixam o enredo seguir com mais sentido. Isso faz muito bem aos personagens da trama e a quem a escreve também!
Uma outra conversa - de um outro encontro, esse sim! - ajudou. Foi grande o exercício de pontuação... E quando a gente aprende a escrever capítulos importantes, fica infinitamente mais fácil resolver os pequenos adendos - por mais assustadores que eles pareçam...
Discussões sinceras confirmam figuras como essenciais na novela da gente... Também espantam outras pra bem longe! A vida é assim, que nem ficção... Certos personagens se perdem pelo caminho, alguns surgem só de passagem, outros ficam... Mesmo que mudem de papel e sigam se transformando...
Eu? Escritora e protagonista... Às vezes me perco no meio deles...
Passei susto nas últimas linhas... Tive que pontuar de novo!
Pontuei... (Isso dá um trabalho!)
Descobri neste fim de quase capítulo, novos inícios... Reinvenções que são a única possibilidade do eterno - que apesar de não existir, tanto me fascina.
Sigo na busca... Ainda que por vezes inútil!
Monto meu forte e afasto a pontapés os inimigo que tentam me invadir!
(Invasão boa é invasão consentida! E é só dessa que gosto!)
Com pontos, vírgulas, palavras e silêncio enfrento as ameaças... Venham elas de dentro ou de fora de mim!
quinta-feira, março 09, 2006
A não-poesia das Letras
Acordei e não fui trabalhar. Fui à escola!
Voltar a faculdade depois de tanto tempo é estranho. Como mergulhar num universo tão meu, tão alheio a mim. Vaguei pelos corredores, sem sentido. Precisava achar um professor do qual só me lembrava da voz. Percorri todas as salas, na porta de uma parei. O timbre era conhecido. Não havia ninguém pra confirmar se era ele quem eu procurava. Mas era. Não se lembrava de mim. Deveria? Aquele homem era a minha esperança de voltar logo pra lá... Me ouviu, mas nada resolveu. Continuo no limbo dos jubilados! Sim, fui jubilada e descobri essa semana. É reversível, mas está dando um trabalho!
Enfim, a missão fracassou, mas a sensação de estar ali reverberou na minha cabeça o dia todo.
Aquele sentimento indigestível de não se encaixar onde vc deveria!
Pode ser preconceito, mas quem estuda as letras, as ilusões e as palavras deveria ser no mínimo bastante humano. Mas meus colegas, que nem me conhecem são tão... tão... apáticos. Centenas de solitários, como eu, é verdade... No entanto sem brilho, pouco sorriso, pouco papo.
Na hora de ir embora ouvi alguém me chamar, depois de horas de quase silêncio. Era a vendedora de trufas. Não resisti, conversamos longos segundos e saí de lá feliz com o chocolate nas mãos.
Voltar a faculdade depois de tanto tempo é estranho. Como mergulhar num universo tão meu, tão alheio a mim. Vaguei pelos corredores, sem sentido. Precisava achar um professor do qual só me lembrava da voz. Percorri todas as salas, na porta de uma parei. O timbre era conhecido. Não havia ninguém pra confirmar se era ele quem eu procurava. Mas era. Não se lembrava de mim. Deveria? Aquele homem era a minha esperança de voltar logo pra lá... Me ouviu, mas nada resolveu. Continuo no limbo dos jubilados! Sim, fui jubilada e descobri essa semana. É reversível, mas está dando um trabalho!
Enfim, a missão fracassou, mas a sensação de estar ali reverberou na minha cabeça o dia todo.
Aquele sentimento indigestível de não se encaixar onde vc deveria!
Pode ser preconceito, mas quem estuda as letras, as ilusões e as palavras deveria ser no mínimo bastante humano. Mas meus colegas, que nem me conhecem são tão... tão... apáticos. Centenas de solitários, como eu, é verdade... No entanto sem brilho, pouco sorriso, pouco papo.
Na hora de ir embora ouvi alguém me chamar, depois de horas de quase silêncio. Era a vendedora de trufas. Não resisti, conversamos longos segundos e saí de lá feliz com o chocolate nas mãos.
quarta-feira, março 08, 2006
8 de março
Amigo,
Sabes infinitamente melhor do que eu do valor feminino.
Andastes meio distraído, é verdade! Talvez dando tempo pra que os homens tentassem alcançar as nossas virtudes... Mas já estamos longe do trono do mundo há tantos séculos e as mudanças são tão lentas, que chego a duvidar da eficiência dessa estratégia!
De qualquer forma, hoje não quero questionar, nem pedir que equilibre o mundo de uma vez por todas... Isso eu estou ajudando a fazer todo dia e sei que demora... Peço apenas que lance seu olhar atento a todas nós, enquanto a balança dos gêneros continua desregulada...
Sobre as donas-marias em sua guerra diária contra o tanque, a greve de ônibus e a violência lança, além do olhar, a dúvida... a descoberta do questionamento.
Sobre as cortadoras de cana, derrama doçura. Assim como sobre as moças do engenho, da mata, da roça, das ruas...
As mulheres que lutam ou calam, força! E conquistas diárias:
Para as mães, que não faltem os filhos!
As trabalhadoras: oportunidades, salário justo, reconhecimento.
Para quem quer ser profissional só do lar: o respeito.
A quem não quer, oferece a possibilidade do não!
A quem sonha, a certeza de que é possível.
Para as putas, tristes ou não, reserva a pureza da alma. Que não lhes faltem ilusões, para aquecer as noites e as camas e... um abraço compreensivo no fim da noite, mesmo que já seja de dia.
Abraço também às solitárias, mesmo acompanhadas...
Não se esqueça das intelectuais!
Olha pra elas com carinho, porque é a vontade de não se conformar que as motiva na busca.
Ah! E Antes que desistam de perguntar, daí a elas algumas respostas.
Às poposudas, silicone.
Às feias, encanto.
Elogios? À todas!
Às apaixonadas, o amor...
Às apaixonantes, aventuras...
Ao encontro, consenso.
Às loiras respeito. Às morenas, às ruivas e às negras também...
As sapas, sejam elas de que cor forem: o arco-íris.
As velhas, ouvintes... E muitas histórias pra contar.
Que elas ninem o sono e embalem as conquistas das que acabam de chegar... Possam admirar orgulhosas a marcha das novas gerações, que também é delas...
E que, logo ela - a marcha - nos leve para a um lugar enfim comum, onde o sexismo não exista e haja espaço apenas pras nossas adoráveis diferenças.
Sabes infinitamente melhor do que eu do valor feminino.
Andastes meio distraído, é verdade! Talvez dando tempo pra que os homens tentassem alcançar as nossas virtudes... Mas já estamos longe do trono do mundo há tantos séculos e as mudanças são tão lentas, que chego a duvidar da eficiência dessa estratégia!
De qualquer forma, hoje não quero questionar, nem pedir que equilibre o mundo de uma vez por todas... Isso eu estou ajudando a fazer todo dia e sei que demora... Peço apenas que lance seu olhar atento a todas nós, enquanto a balança dos gêneros continua desregulada...
Sobre as donas-marias em sua guerra diária contra o tanque, a greve de ônibus e a violência lança, além do olhar, a dúvida... a descoberta do questionamento.
Sobre as cortadoras de cana, derrama doçura. Assim como sobre as moças do engenho, da mata, da roça, das ruas...
As mulheres que lutam ou calam, força! E conquistas diárias:
Para as mães, que não faltem os filhos!
As trabalhadoras: oportunidades, salário justo, reconhecimento.
Para quem quer ser profissional só do lar: o respeito.
A quem não quer, oferece a possibilidade do não!
A quem sonha, a certeza de que é possível.
Para as putas, tristes ou não, reserva a pureza da alma. Que não lhes faltem ilusões, para aquecer as noites e as camas e... um abraço compreensivo no fim da noite, mesmo que já seja de dia.
Abraço também às solitárias, mesmo acompanhadas...
Não se esqueça das intelectuais!
Olha pra elas com carinho, porque é a vontade de não se conformar que as motiva na busca.
Ah! E Antes que desistam de perguntar, daí a elas algumas respostas.
Às poposudas, silicone.
Às feias, encanto.
Elogios? À todas!
Às apaixonadas, o amor...
Às apaixonantes, aventuras...
Ao encontro, consenso.
Às loiras respeito. Às morenas, às ruivas e às negras também...
As sapas, sejam elas de que cor forem: o arco-íris.
As velhas, ouvintes... E muitas histórias pra contar.
Que elas ninem o sono e embalem as conquistas das que acabam de chegar... Possam admirar orgulhosas a marcha das novas gerações, que também é delas...
E que, logo ela - a marcha - nos leve para a um lugar enfim comum, onde o sexismo não exista e haja espaço apenas pras nossas adoráveis diferenças.
segunda-feira, março 06, 2006
100 palavras
Crise!
Há horas, ou dias, semanas?... nada que escrevo me agrada.
As palavras andam traidoras e me roubam de mim.
Quero gritar pro mundo, mas não consigo falar nem comigo!
Merda! Está acontecendo de novo.
Um monte de letras e eu perdida!
Queria uma frase que fosse. Qualquer coisa sincera o suficiente pra me traduzir neste momento.
Ansiedade.
Angústia.
Ciúme?
Saudade...
Peças... soltas que não consigo juntar.
A multidão me deixa ainda mais só, confusa. Com ela... (sem ela) sou tantas e, pra ninguém.
Desordem... de novo!
É estranho.
Estar perto, mas tão distante de onde deveria estar...
Há horas, ou dias, semanas?... nada que escrevo me agrada.
As palavras andam traidoras e me roubam de mim.
Quero gritar pro mundo, mas não consigo falar nem comigo!
Merda! Está acontecendo de novo.
Um monte de letras e eu perdida!
Queria uma frase que fosse. Qualquer coisa sincera o suficiente pra me traduzir neste momento.
Ansiedade.
Angústia.
Ciúme?
Saudade...
Peças... soltas que não consigo juntar.
A multidão me deixa ainda mais só, confusa. Com ela... (sem ela) sou tantas e, pra ninguém.
Desordem... de novo!
É estranho.
Estar perto, mas tão distante de onde deveria estar...
sexta-feira, março 03, 2006
Dia de vomitar o mundo...
Há dias em que uma dor de estômago obriga a gente a colocar algo pra fora!
Minha insensibilidade me assusta e hoje é o dia dela!
Odeio quando passo pelas ruas e vejo gente morrendo e não faço nada!
Quando uma mão pequena me pede moeda e eu fecho o vidro com medo de assalto!
Quando não sei o que dizer pra quem diz que tem fome!
Lembro daquela mulher me pedindo dinheiro pra comprar uma galinha...
Fantasmas da vida real, do lado de fora do meu carro e dessa bolha de fantasia...
Quando fico triste, olho no espelho e me cobro!
Como sofrer com uma angústia tão egoísta, quando tantos precisam de mim? E na verdade nem precisam...
Talvez eu é precise deles e neles esteja a resposta pra essa falta inesplicavel que eu sinto...
Confesso!
Confesso que tenho inveja da risada escandalosa de quem não tem quase nada! Do amor de beijo na boca desdentado, sujo, debochado...
Quando visito gente simples, pra cantar suas desgraças me derreto com a capacidade dessa gente de sorrir! Eles varrem a lama pra fora do barraco fazendo piada da vida. Sambam sobre as tristezas, eles os fodidos... Enquanto eu, com tanto, me desespero por quase nada.
Quero vomitar tudo isso! Essa insatisfação de nunca estar satisfeita!
Minha insensibilidade me assusta e hoje é o dia dela!
Odeio quando passo pelas ruas e vejo gente morrendo e não faço nada!
Quando uma mão pequena me pede moeda e eu fecho o vidro com medo de assalto!
Quando não sei o que dizer pra quem diz que tem fome!
Lembro daquela mulher me pedindo dinheiro pra comprar uma galinha...
Fantasmas da vida real, do lado de fora do meu carro e dessa bolha de fantasia...
Quando fico triste, olho no espelho e me cobro!
Como sofrer com uma angústia tão egoísta, quando tantos precisam de mim? E na verdade nem precisam...
Talvez eu é precise deles e neles esteja a resposta pra essa falta inesplicavel que eu sinto...
Confesso!
Confesso que tenho inveja da risada escandalosa de quem não tem quase nada! Do amor de beijo na boca desdentado, sujo, debochado...
Quando visito gente simples, pra cantar suas desgraças me derreto com a capacidade dessa gente de sorrir! Eles varrem a lama pra fora do barraco fazendo piada da vida. Sambam sobre as tristezas, eles os fodidos... Enquanto eu, com tanto, me desespero por quase nada.
Quero vomitar tudo isso! Essa insatisfação de nunca estar satisfeita!
Sem remédio
Preciso marcar uma consulta, mas não com um médico qualquer. Alguém que entenda como eu funciono e quero respostas!!!
Ando que é só perguntas e tenho andado muito. Falo alto, baixo, grito muitas delas por aí, até em silêncio. As respostas não me ouvem.
Ouço seus ecos, vazios.
Quero que o mundo me diga o que eu mesma não tenho coragem. Eu tão corajosa!
Me perco.
Engraçado, de tão livre, me perdi... E bom de se perder é ter quem te achar... E quem euu tenho, no momento, não quero que me ache!
Menti que tudo é possível.
Crente, me enganei.
Tem um quase antes de tudo e odeio essa palavra!
...
Fui ao médico...
Na falta de especialidade - escolhi um clínico geral.
Errei de novo... Nem de gripe ele entende direito...
Ando que é só perguntas e tenho andado muito. Falo alto, baixo, grito muitas delas por aí, até em silêncio. As respostas não me ouvem.
Ouço seus ecos, vazios.
Quero que o mundo me diga o que eu mesma não tenho coragem. Eu tão corajosa!
Me perco.
Engraçado, de tão livre, me perdi... E bom de se perder é ter quem te achar... E quem euu tenho, no momento, não quero que me ache!
Menti que tudo é possível.
Crente, me enganei.
Tem um quase antes de tudo e odeio essa palavra!
...
Fui ao médico...
Na falta de especialidade - escolhi um clínico geral.
Errei de novo... Nem de gripe ele entende direito...
segunda-feira, fevereiro 06, 2006
Longe de casa há quase três semanas...
Brincando de santista, invadindo casas, sem casa... E passando tempo demais comigo! Boa companhia... Mas insuficiente.
Ok, tenho dezenas de estranhos que conheço todos os dias com a superficialidade mais profunda e honesta que posso. Mas eles passam, assim que o jornal acaba. Tem meus novos colegas de trabalho também... Mas eles ainda estão descobrindo quem eu sou de verdade.
E isso nem eu sei...
Tem a família do outro lado da serra e da linha, todos os dias...
Tem também os amigos que não se esquecem de mim e tem mais centenas de sonhos e de pessoas que povoam meu tempo livre.
Gente que eu ainda não conheço e talvez demore pra conhecer... Mas gosto de pensar nelas... Como serão, como serão nossos primeiros encontros, nossos papos de bar e em que bares...
Imagino as viagens de carnaval e de feriados - porque um dia, terei de novo carnaval e folga nos feriados!
Invento as paisagens do Jalapão - que quero tanto visitar – e tento adivinhar quem estará comigo na foto dentro da mina d´água?
Penso também no fim de semana que começa depois de amanhã... Nas pessoas que virão assim, sem aviso... E em tantos outros finais de semana, que irão me fazer repensar tudo isso... Tantas e tantas vezes...
Penso também nos beijos que darei em muitas delas... Em qual será mais especial e se terei vontade de novo de beijar esse mesmo beijo pra sempre... Ainda que o pra sempre não exista.
São tantos os pensamentos que povoam esse quarto vazio, que mal caibo na cama...
Logo, logo mato a saudade de casa e começa outra semana. Serão 4, 5... Imprevisíveis quantas... O importante é que a cada hora que passa vou chegando mais perto de todos que por enquanto estão, mas não estão por aqui.
Ok, tenho dezenas de estranhos que conheço todos os dias com a superficialidade mais profunda e honesta que posso. Mas eles passam, assim que o jornal acaba. Tem meus novos colegas de trabalho também... Mas eles ainda estão descobrindo quem eu sou de verdade.
E isso nem eu sei...
Tem a família do outro lado da serra e da linha, todos os dias...
Tem também os amigos que não se esquecem de mim e tem mais centenas de sonhos e de pessoas que povoam meu tempo livre.
Gente que eu ainda não conheço e talvez demore pra conhecer... Mas gosto de pensar nelas... Como serão, como serão nossos primeiros encontros, nossos papos de bar e em que bares...
Imagino as viagens de carnaval e de feriados - porque um dia, terei de novo carnaval e folga nos feriados!
Invento as paisagens do Jalapão - que quero tanto visitar – e tento adivinhar quem estará comigo na foto dentro da mina d´água?
Penso também no fim de semana que começa depois de amanhã... Nas pessoas que virão assim, sem aviso... E em tantos outros finais de semana, que irão me fazer repensar tudo isso... Tantas e tantas vezes...
Penso também nos beijos que darei em muitas delas... Em qual será mais especial e se terei vontade de novo de beijar esse mesmo beijo pra sempre... Ainda que o pra sempre não exista.
São tantos os pensamentos que povoam esse quarto vazio, que mal caibo na cama...
Logo, logo mato a saudade de casa e começa outra semana. Serão 4, 5... Imprevisíveis quantas... O importante é que a cada hora que passa vou chegando mais perto de todos que por enquanto estão, mas não estão por aqui.
domingo, janeiro 29, 2006
Lições do porto
Olhando os barcos que chegam e se perdem na linha, lá longe, a gente vê o quanto somos pequenos e passsageiros. Observar o porto é assim, exercício de auto-conhecimento.
O barco enorme que paira, ainda que carregado sob o guindaste, sobre a água, dá a medida exata da leveza e do peso.
E... quanto a noção dessa medida às vezes faz falta...
Ainda olhando o vai e vem, ganha-se mais: perde-se um medo. O medo da despedida.
Isso porque sempre há algo partindo para que um outro algo qualquer possa atracar, desembarcar, ser carregado e ir para o mar de novo, sumir no horizonte.
Porto é saudade, é desprendimento, tudo junto. Mas mesmo sabendo de tudo isso, é difícil cortar algumas amarras na vida real e deixar certos barcos partirem.
O barco enorme que paira, ainda que carregado sob o guindaste, sobre a água, dá a medida exata da leveza e do peso.
E... quanto a noção dessa medida às vezes faz falta...
Ainda olhando o vai e vem, ganha-se mais: perde-se um medo. O medo da despedida.
Isso porque sempre há algo partindo para que um outro algo qualquer possa atracar, desembarcar, ser carregado e ir para o mar de novo, sumir no horizonte.
Porto é saudade, é desprendimento, tudo junto. Mas mesmo sabendo de tudo isso, é difícil cortar algumas amarras na vida real e deixar certos barcos partirem.
terça-feira, janeiro 24, 2006
Descobrindo Santos...
Menos de 24h e já descobri coisas importantes sobre essa cidade orgulhosa. Orgulhosa porque o santista antes de tudo é um povo orgulhoso!!!
Ok, não que eu já não soubesse disso, afinal todos os meus amigos daqui - que tem se multiplicado, ultimamente - são extremamente bairristas, mas achei que talvez fosse nostalgia de quem tem saudade da terra natal...
Bobagem.
Quando desci a serra hoje e avistei a cidade, entendi o que o Jóa me disse outro dia com o olho brilhando!
Vim vindo...
Tentando deixar um pouco minha alma paulistana pela estrada.
Aqui tem radar em todo o canto e ciclovia. Daí, a gente desacelera sem perceber e se obriga a andar devagar.
O mar vira bússola... O canais, a praia, tudo referência.
Difícil se perder.
Mas voltando aos bairrismos, vi de cara que santista que mora em Santos é ainda mais apaixonado pela cidade. E é época de aniversário... O amor por Santos está por toda parte.
Vi o sol se pôr, bonito entre nuvens coloridas, como há tempos não via.
Sobre nós, eu e Santos choveu uma garoa fina... Me senti acolhida, profundamente feliz!
Cidade simples, de gente simples, acostumada a ver o horizonte... Tão diferente de mim...
Nesse porto de idas e vindas, me permito sonhar que sou a mais nova a chega e sou muito bem-vinda!
Daqui a pouco começo a falar com milhares de desconhecidos, a quem pretendo emprestar meu olhar de surpresa sobre cada recorte dessa terra, tão deles.
Chego assim, meio que sem querer, querendo... Com a alma aventureira dos desbravadores de 460 anos atrás, mas com as melhores intenções.
Ok, não que eu já não soubesse disso, afinal todos os meus amigos daqui - que tem se multiplicado, ultimamente - são extremamente bairristas, mas achei que talvez fosse nostalgia de quem tem saudade da terra natal...
Bobagem.
Quando desci a serra hoje e avistei a cidade, entendi o que o Jóa me disse outro dia com o olho brilhando!
Vim vindo...
Tentando deixar um pouco minha alma paulistana pela estrada.
Aqui tem radar em todo o canto e ciclovia. Daí, a gente desacelera sem perceber e se obriga a andar devagar.
O mar vira bússola... O canais, a praia, tudo referência.
Difícil se perder.
Mas voltando aos bairrismos, vi de cara que santista que mora em Santos é ainda mais apaixonado pela cidade. E é época de aniversário... O amor por Santos está por toda parte.
Vi o sol se pôr, bonito entre nuvens coloridas, como há tempos não via.
Sobre nós, eu e Santos choveu uma garoa fina... Me senti acolhida, profundamente feliz!
Cidade simples, de gente simples, acostumada a ver o horizonte... Tão diferente de mim...
Nesse porto de idas e vindas, me permito sonhar que sou a mais nova a chega e sou muito bem-vinda!
Daqui a pouco começo a falar com milhares de desconhecidos, a quem pretendo emprestar meu olhar de surpresa sobre cada recorte dessa terra, tão deles.
Chego assim, meio que sem querer, querendo... Com a alma aventureira dos desbravadores de 460 anos atrás, mas com as melhores intenções.
A propósito...
Talvez sem propósito... Durante meu lanche de ontem à noite, li duas frases que me fizeram pensar. Sessão cultura de boteco, que inauguro e batismo nesse dia de descobertas...
São elas...
“Nada é mais sincero que o Amor pela comida.”
“Adão e Eva se perderam por uma maçã; imagine o que não fariam por um beirute!”
(Beduíno Beirutes – Praia do Gonzaga – Santos SP)
São elas...
“Nada é mais sincero que o Amor pela comida.”
“Adão e Eva se perderam por uma maçã; imagine o que não fariam por um beirute!”
(Beduíno Beirutes – Praia do Gonzaga – Santos SP)
Nelson Rodrigues, meu pai e eu
No restaurante, entre uma e outra picanha... Meu pai e eu conversávamos sobre relacionamentos...
Fui dura com ele! Cobrei o porquê de todos os pais, ensinarem aos filhos que o amor e a fidelidade existem, se na real não há senão relacionamentos falidos e muita, muita hipocrisia.
Entre uma e outra cerveja, ele tentou explicar. Mais do que isso, tentou me ajudar a não me sentir um fracasso por acreditar em conto de fadas!
Não sei se deu certo...
À tarde fui ao teatro ver A Serpente, de Nelson Rodrigues.
Odeio Nelson Rodrigues!!!
Fui apenas por duas razões: ganhei os ingressos e na frente da FAAP tem uma sorveteria maravilhosa...
Domingo à tarde, e lá estavam eu e o Nelson – o odiado – frente a frente mais uma vez... Ansiosa pelo sorvete que viria depois...
Juro, que tentei não ser resistente e assistir à peça sem preconceito.
Cinco minutos depois, nem a Débora Falabella foi capaz de impedir que eu odiasse tudo!
Uma hora e meia de sexo da pior qualidade, personagens que mais parecem animais no cio e conseqüências absurdas para esse comportamento absurdo dessa gente absurda... Resumo de mais uma obra, igual a tantas outras do sempre ninfomaníaco e frustrado Nelson...
Lembrei da conversa com meu pai...
E em transe com tanto desgosto, cheguei a pensar que talvez o mundo seja mesmo grotesco como nas peças de Nelson Rodrigues.
Se meu teclado tivesse ponto de interrogação, perguntaria a mim mesma mil vezes se nós pessoas não somos tão animais quanto a ficção.
Ainda bem que não há interrogação e isso me faz desistir de seguir questionando.
O mundo, hipócrita, que não acredita em amor, respeito e fidelidade que me perdoe, mas eu continuo vivendo longe do palco de Nelson. E apesar de não me convencer com os argumentos desprevenidos de papai, continuo acreditando que o amor é possível.
Se é pra vida imitar a ficção, não abro mão de escrever minha própria história e há de haver alguém que sonhe parecido pra me ajudar...
Sem medo de parecer infantil, deixo meus próximos ingressos pra Nelson Rodrigues a quem tiver medo de viver comigo esse conto-de-fadas e vou acompanhada - ainda que apenas de minha ingenuidade tomar sorvete, desta vez sem ter que entrar no teatro.
Fui dura com ele! Cobrei o porquê de todos os pais, ensinarem aos filhos que o amor e a fidelidade existem, se na real não há senão relacionamentos falidos e muita, muita hipocrisia.
Entre uma e outra cerveja, ele tentou explicar. Mais do que isso, tentou me ajudar a não me sentir um fracasso por acreditar em conto de fadas!
Não sei se deu certo...
À tarde fui ao teatro ver A Serpente, de Nelson Rodrigues.
Odeio Nelson Rodrigues!!!
Fui apenas por duas razões: ganhei os ingressos e na frente da FAAP tem uma sorveteria maravilhosa...
Domingo à tarde, e lá estavam eu e o Nelson – o odiado – frente a frente mais uma vez... Ansiosa pelo sorvete que viria depois...
Juro, que tentei não ser resistente e assistir à peça sem preconceito.
Cinco minutos depois, nem a Débora Falabella foi capaz de impedir que eu odiasse tudo!
Uma hora e meia de sexo da pior qualidade, personagens que mais parecem animais no cio e conseqüências absurdas para esse comportamento absurdo dessa gente absurda... Resumo de mais uma obra, igual a tantas outras do sempre ninfomaníaco e frustrado Nelson...
Lembrei da conversa com meu pai...
E em transe com tanto desgosto, cheguei a pensar que talvez o mundo seja mesmo grotesco como nas peças de Nelson Rodrigues.
Se meu teclado tivesse ponto de interrogação, perguntaria a mim mesma mil vezes se nós pessoas não somos tão animais quanto a ficção.
Ainda bem que não há interrogação e isso me faz desistir de seguir questionando.
O mundo, hipócrita, que não acredita em amor, respeito e fidelidade que me perdoe, mas eu continuo vivendo longe do palco de Nelson. E apesar de não me convencer com os argumentos desprevenidos de papai, continuo acreditando que o amor é possível.
Se é pra vida imitar a ficção, não abro mão de escrever minha própria história e há de haver alguém que sonhe parecido pra me ajudar...
Sem medo de parecer infantil, deixo meus próximos ingressos pra Nelson Rodrigues a quem tiver medo de viver comigo esse conto-de-fadas e vou acompanhada - ainda que apenas de minha ingenuidade tomar sorvete, desta vez sem ter que entrar no teatro.
domingo, janeiro 22, 2006
Amor de mãe
Hoje sofri de uma aflição impossível de explicar.
Mamãe acordou assustada...
Difícil saber o que fazer com susto de mãe. Mãe sempre cuida da gente... E quando os papéis se invertem dá um baque no coração.
Fingi de forte.
Enganei direitinho...
Enganei tanto que acreditei eu mesma que tinha coragem.
Coragem que nada!
Por dentro eu tremia, rezava e doía.
Vontade de tomar a aflição dela nos braços e me fazer ela pra fazer parar de sofrer.
Papai do céu ajudou. Deu tudo certo e voltamos juntas pra casa e pra vida normal. Eu filha, mamãe mamãe... Pronta pra cuidar de mim outra vez!
Alívio pra um coração apertado que por mais que ame infinitamente, descobriu que é capaz de amar ainda mais forte!
Não quero mais susto, mamãe! Nunca mais!!!
Mamãe acordou assustada...
Difícil saber o que fazer com susto de mãe. Mãe sempre cuida da gente... E quando os papéis se invertem dá um baque no coração.
Fingi de forte.
Enganei direitinho...
Enganei tanto que acreditei eu mesma que tinha coragem.
Coragem que nada!
Por dentro eu tremia, rezava e doía.
Vontade de tomar a aflição dela nos braços e me fazer ela pra fazer parar de sofrer.
Papai do céu ajudou. Deu tudo certo e voltamos juntas pra casa e pra vida normal. Eu filha, mamãe mamãe... Pronta pra cuidar de mim outra vez!
Alívio pra um coração apertado que por mais que ame infinitamente, descobriu que é capaz de amar ainda mais forte!
Não quero mais susto, mamãe! Nunca mais!!!
segunda-feira, janeiro 16, 2006
Lá vou eu...
São muitas as novidades e sinto que minha vida vai mudar bruscamente... Ando repensando muita coisa... Ao mesmo tempo tentando nem pensar.
Sempre foi assim... Quando fico meio perdida, alguma coisa acontece e me mostra um novo caminho e aconteceu de novo.
Essa entidade que aparece sempre nas horas mais inesperadas (e certas) me sacudiu e não tenho dúvidas de que a mudança é grande e pra logo.
Ah essa coisa nômade que virei nos últimos tempos!
Difícil lutar contra maremotos que mudam o rumo do barco e me levam sempre pra um lugar diferente? (Deliciosamente diferente!)
Quem achava que eu ia sossegar, se enganou! Nunca sossego!
Outra chance, outra cidade... Eu na estrada outra vez!
Não há mesmo como duvidar desse negócio chamado destino, nem como ancorar por aí. Meu barco é a vela, não pára e só obedece o vento.
Mas há medo também!
Medo medroso de tanta coragem...
Sempre foi assim... Quando fico meio perdida, alguma coisa acontece e me mostra um novo caminho e aconteceu de novo.
Essa entidade que aparece sempre nas horas mais inesperadas (e certas) me sacudiu e não tenho dúvidas de que a mudança é grande e pra logo.
Ah essa coisa nômade que virei nos últimos tempos!
Difícil lutar contra maremotos que mudam o rumo do barco e me levam sempre pra um lugar diferente? (Deliciosamente diferente!)
Quem achava que eu ia sossegar, se enganou! Nunca sossego!
Outra chance, outra cidade... Eu na estrada outra vez!
Não há mesmo como duvidar desse negócio chamado destino, nem como ancorar por aí. Meu barco é a vela, não pára e só obedece o vento.
Mas há medo também!
Medo medroso de tanta coragem...
domingo, janeiro 08, 2006
Domingo...
de sol
de novo
de plantão...
Mas feliz!!!
Viva o futebol!
Viva a endorfina!
Viva a poesia mal construída!
de novo
de plantão...
Mas feliz!!!
Viva o futebol!
Viva a endorfina!
Viva a poesia mal construída!
domingo, dezembro 25, 2005
Que venha 2006!!!
Despedir-se de 2006 é difícil. Foi sem dúvida o ano mais intenso da minha vida. Começou na virada, cheia de expectativa, que passamos, minha família e eu, na terra do boi – literalmente e no sentido figurado. Era uma churrascaria, era Araçatuba.
Meses depois guardei na gaveta o sonho, já bem concreto e realizado. Voltei pra casa repórter! ...Sem a mínima idéia de como era a hora certa! Ganhei o Ação de presente! Aí foram seis meses de mergulho profundo por um Brasil que eu só conhecia na imaginação.
A viagem começou por Minas Gerais. Primeiro BH, onde testemunhei como a magia do circo é capaz de devolver a quem perdeu a infância, bem cedo, a capacidade de sonhar.
Veio a literatura. Veio Cordisburgo, uma cidade pequenina bem Minas, Brasil de dentro... Terra de Guimarães Rosa, onde seus miguilins resistem ao tempo e a modernidade contando as histórias dos sertanejos. De lá, descobri Itabira e me encontrei com Drummond.
Ele estava por toda parte. O vi nos morros sangrados pela mineração, no povo de ferro orgulhoso, "noventa porcento de ferro nas calçadas, oitenta porcento de ferro nas almas"... Estava na casa onde nasceu e nos seus drummonzinhos talentosos...
Em São João Del Rei, o oposto da poesia.
A freira exploradora de criancinhas, a hipocrisia da Igreja e a cumplicidade reacionária de uma política do século passado.
Ceará.
O sertão, a Fortaleza.
Aracati das cabritas, da gente de pouca fala e coração generoso. Por lá, descobri que da aridez da terra emerge uma força que só quem tem fome de tudo conhece.
Canoa quebrada, ilusão pra turista... Em Icapuí, Ah Icapuí... Descoberta do paraíso! Cidade de pescadores organizados que fazem sua própria política. Litoral de falésias, de cabanas, de mangues sem fim. Lição de como homem e natureza podem ser parceiros de igual pra igual, sem dominação.
Paraná. Londrina – karatê.
Em um sobrado quase escondido, visitei um grupo de idosos, que se reúne dia sim, dia não para lutar pela vida. Com eles, aprendi que não é preciso mais do que movimentos lentos, muitas vezes imprecisos e claro, alegria para vencer inimigos fortes como o medo, o tempo e a solidão.
Maringá – honestidade.
Como esquecer Dona Ione, que me recebeu no sofazinho de casa como se eu fosse da família. Dividiu comigo seus arquivos secretos. Lembranças dos prêmios que recebeu por, pasmem! Ser honesta. “No Brasil é tudo tão estranho que ganhei um monte de coisa só por fazer o que aprendi que é certo.”
D. Ione, foi a primeira brasileira a devolver o cartão do bolsa-família. Quando o marido, há meses desempregado conseguiu trabalho e um salário de 300 reais, ela achou injusto continuar recebendo o auxílio de 50 reais e enfrentou a burocracia de um sistema que não foi preparado para iniciativas como a dela. Ou seja, pra gente honesta... Quando perguntei por quê tanto empenho... A resposta: “Há gente que precisa bem mais do que eu”.
Do Paraná para Cuiabá.
Confesso que não esperava tanta beleza. O Mato Grosso me fez apaixonar! Fui pra lá duvidando do poder do hip-hop da periferia cuiabana e acabei surpresa com a capacidade de reinvenção do movimento urbano. Surpresa também com o idealismo de gente como o mestre Marcelo, que transformou a garagem alugada de 3mX5m em academia de jiu-jitsu para tirar da rua crianças e jovens que não tinham por quê lutar.
Tive meus momentos de êxtase. Vi a chapada dos Guimarães e fiquei tonta com tanta beleza. Nadei em cachoeira, conversei com mãe d´água e visitei a Cidade de Pedra.
Rally no areião.
Desafio, auto-conhecimento...
Rara beleza.
Depois fui pro Rio.
Passei um medo danado, mas contei algumas de suas histórias. A de Luciana que enfrenta a falta de perspectiva cantando. A de tantos de seus colegas de Galpão Aplauso... Gente que pinta, interpreta, faz circo e dribla o temor sonhando bem acordado.
Em Niterói, no campinho improvisado, o sonho da bola.
Do Recife, Cidade do Cabo... E lá a descoberta concreta do feminismo.
Uma associação, uma rádio. Centenas e milhares de mulheres envolvidas num projeto de empoderamento. Feminismo real!
Dança que devolve dignidade. Práticas incansáveis de convencimento em plena zona da mata.
Pequenas vitórias.
Possibilidade de escolha. O poder do diálogo...
Enfrentamento do machismo no engenho e na cidade.
Feminismo que não é bandeira, nem passado, nem palanque, nem literatura.
Guerra diária contra o patriarcado.
Resposta a violência.
Direito de dizer não.
Rolê por um Brasil de muitas sotaques, mas uma única voz, que não precisa gritar para ser ouvida... E hoje, lembrando de todos esses personagens que me honram como pessoa e como jornalista sei como essa foi a grande lição. Fazer a voz ecoar, sem gritar...
O mês passado, essa viagem terminou. Outras virão, mas jamais a esquecerei. Hoje estou editora, a alma ainda é repórter, quem sabe um pouco mais madura, um pouco mais infantil - reflexo de tanto exercitar o olhar inocente.
Sei que desço do bonde 2005 muito mais apaixonada pelas pessoas de cada rincão dessa terra. Gente que luta, e que, sem dúvida, dão um sentido maior a minha vida e o meu trabalho. Não posso agradecer a cada uma delas. Jamais poderei. Gratidão grande demais... Mas prometo que com a ajuda de Deus e o apoio de todos que amo, farei deste ANO NOVO, novinho em folha, uma viagem ainda melhor! Que venha 2006!!!
Meses depois guardei na gaveta o sonho, já bem concreto e realizado. Voltei pra casa repórter! ...Sem a mínima idéia de como era a hora certa! Ganhei o Ação de presente! Aí foram seis meses de mergulho profundo por um Brasil que eu só conhecia na imaginação.
A viagem começou por Minas Gerais. Primeiro BH, onde testemunhei como a magia do circo é capaz de devolver a quem perdeu a infância, bem cedo, a capacidade de sonhar.
Veio a literatura. Veio Cordisburgo, uma cidade pequenina bem Minas, Brasil de dentro... Terra de Guimarães Rosa, onde seus miguilins resistem ao tempo e a modernidade contando as histórias dos sertanejos. De lá, descobri Itabira e me encontrei com Drummond.
Ele estava por toda parte. O vi nos morros sangrados pela mineração, no povo de ferro orgulhoso, "noventa porcento de ferro nas calçadas, oitenta porcento de ferro nas almas"... Estava na casa onde nasceu e nos seus drummonzinhos talentosos...
Em São João Del Rei, o oposto da poesia.
A freira exploradora de criancinhas, a hipocrisia da Igreja e a cumplicidade reacionária de uma política do século passado.
Ceará.
O sertão, a Fortaleza.
Aracati das cabritas, da gente de pouca fala e coração generoso. Por lá, descobri que da aridez da terra emerge uma força que só quem tem fome de tudo conhece.
Canoa quebrada, ilusão pra turista... Em Icapuí, Ah Icapuí... Descoberta do paraíso! Cidade de pescadores organizados que fazem sua própria política. Litoral de falésias, de cabanas, de mangues sem fim. Lição de como homem e natureza podem ser parceiros de igual pra igual, sem dominação.
Paraná. Londrina – karatê.
Em um sobrado quase escondido, visitei um grupo de idosos, que se reúne dia sim, dia não para lutar pela vida. Com eles, aprendi que não é preciso mais do que movimentos lentos, muitas vezes imprecisos e claro, alegria para vencer inimigos fortes como o medo, o tempo e a solidão.
Maringá – honestidade.
Como esquecer Dona Ione, que me recebeu no sofazinho de casa como se eu fosse da família. Dividiu comigo seus arquivos secretos. Lembranças dos prêmios que recebeu por, pasmem! Ser honesta. “No Brasil é tudo tão estranho que ganhei um monte de coisa só por fazer o que aprendi que é certo.”
D. Ione, foi a primeira brasileira a devolver o cartão do bolsa-família. Quando o marido, há meses desempregado conseguiu trabalho e um salário de 300 reais, ela achou injusto continuar recebendo o auxílio de 50 reais e enfrentou a burocracia de um sistema que não foi preparado para iniciativas como a dela. Ou seja, pra gente honesta... Quando perguntei por quê tanto empenho... A resposta: “Há gente que precisa bem mais do que eu”.
Do Paraná para Cuiabá.
Confesso que não esperava tanta beleza. O Mato Grosso me fez apaixonar! Fui pra lá duvidando do poder do hip-hop da periferia cuiabana e acabei surpresa com a capacidade de reinvenção do movimento urbano. Surpresa também com o idealismo de gente como o mestre Marcelo, que transformou a garagem alugada de 3mX5m em academia de jiu-jitsu para tirar da rua crianças e jovens que não tinham por quê lutar.
Tive meus momentos de êxtase. Vi a chapada dos Guimarães e fiquei tonta com tanta beleza. Nadei em cachoeira, conversei com mãe d´água e visitei a Cidade de Pedra.
Rally no areião.
Desafio, auto-conhecimento...
Rara beleza.
Depois fui pro Rio.
Passei um medo danado, mas contei algumas de suas histórias. A de Luciana que enfrenta a falta de perspectiva cantando. A de tantos de seus colegas de Galpão Aplauso... Gente que pinta, interpreta, faz circo e dribla o temor sonhando bem acordado.
Em Niterói, no campinho improvisado, o sonho da bola.
Do Recife, Cidade do Cabo... E lá a descoberta concreta do feminismo.
Uma associação, uma rádio. Centenas e milhares de mulheres envolvidas num projeto de empoderamento. Feminismo real!
Dança que devolve dignidade. Práticas incansáveis de convencimento em plena zona da mata.
Pequenas vitórias.
Possibilidade de escolha. O poder do diálogo...
Enfrentamento do machismo no engenho e na cidade.
Feminismo que não é bandeira, nem passado, nem palanque, nem literatura.
Guerra diária contra o patriarcado.
Resposta a violência.
Direito de dizer não.
Rolê por um Brasil de muitas sotaques, mas uma única voz, que não precisa gritar para ser ouvida... E hoje, lembrando de todos esses personagens que me honram como pessoa e como jornalista sei como essa foi a grande lição. Fazer a voz ecoar, sem gritar...
O mês passado, essa viagem terminou. Outras virão, mas jamais a esquecerei. Hoje estou editora, a alma ainda é repórter, quem sabe um pouco mais madura, um pouco mais infantil - reflexo de tanto exercitar o olhar inocente.
Sei que desço do bonde 2005 muito mais apaixonada pelas pessoas de cada rincão dessa terra. Gente que luta, e que, sem dúvida, dão um sentido maior a minha vida e o meu trabalho. Não posso agradecer a cada uma delas. Jamais poderei. Gratidão grande demais... Mas prometo que com a ajuda de Deus e o apoio de todos que amo, farei deste ANO NOVO, novinho em folha, uma viagem ainda melhor! Que venha 2006!!!
quinta-feira, dezembro 22, 2005
A verdadeira arte de viajar
A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!
(Quintana in "A cor do invisível")
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!
(Quintana in "A cor do invisível")
Adoro Mário Quintana.
Conversamos agora pouco.
Depois de um dia tentando me conformar, encontrei uma frase dele perdida dentro de uma carta:
"As coisas não se perdem, só mudam de dono".
Muitas coisas minhas mudaram de dono, ontem.
Talvez...
Não sei se concordo com isso, mas a frase me fez pensar...
Já que eu não tenho dono, me conformo, por fim. Afinal, por quê elas teriam?
Depois de um dia tentando me conformar, encontrei uma frase dele perdida dentro de uma carta:
"As coisas não se perdem, só mudam de dono".
Muitas coisas minhas mudaram de dono, ontem.
Talvez...
Não sei se concordo com isso, mas a frase me fez pensar...
Já que eu não tenho dono, me conformo, por fim. Afinal, por quê elas teriam?
quarta-feira, dezembro 21, 2005
157
...Assalto à mao armada.
- Sai do carro, sai do carro!!! Se tentar eu atiro!! Sai, sai!!!
Eram 3 moleques, tinham menos de 15 anos e um revólver. Eu?
Só tinha medo.
Me abordaram na porta de casa... Chegando de 12 horas de trampo.
Meu carro, minha bolsa, o celular... Tudo sumiu na esquina com o barulho forte do carro desgovernando.
Não lembro da sequência exata dos fatos... Minha cabeça ainda é susto, desordem...
Tenho flashes confusos que se misturam. Delegacia, telefonemas intermináveis, musiquinhas de espera. Muita espera... Policiais em casa, no dp. Baratas. Burocracia. Fome, sono, impotência... Sentimento que não suporto!
Madrugada dificil, mas encontraram o carro. Sem som, sem todos os meus cds, sem meu porta-cds! Sem bolsa, sem celular.
Eu, sem sossego.
Noite comprida!
Violenta, revoltosa... Resignada.
Fragmentos dificeis de organizar que me confundiram o dia todo.
Nao fui trabalhar, nao consegui. Pelo menos, agora faltam só seis jornais.
Pulei dois...
Poucos sustos me assustaram tanto.
Quando ele passar, volto a escrever.
- Sai do carro, sai do carro!!! Se tentar eu atiro!! Sai, sai!!!
Eram 3 moleques, tinham menos de 15 anos e um revólver. Eu?
Só tinha medo.
Me abordaram na porta de casa... Chegando de 12 horas de trampo.
Meu carro, minha bolsa, o celular... Tudo sumiu na esquina com o barulho forte do carro desgovernando.
Não lembro da sequência exata dos fatos... Minha cabeça ainda é susto, desordem...
Tenho flashes confusos que se misturam. Delegacia, telefonemas intermináveis, musiquinhas de espera. Muita espera... Policiais em casa, no dp. Baratas. Burocracia. Fome, sono, impotência... Sentimento que não suporto!
Madrugada dificil, mas encontraram o carro. Sem som, sem todos os meus cds, sem meu porta-cds! Sem bolsa, sem celular.
Eu, sem sossego.
Noite comprida!
Violenta, revoltosa... Resignada.
Fragmentos dificeis de organizar que me confundiram o dia todo.
Nao fui trabalhar, nao consegui. Pelo menos, agora faltam só seis jornais.
Pulei dois...
Poucos sustos me assustaram tanto.
Quando ele passar, volto a escrever.
terça-feira, dezembro 20, 2005
Dias de brincar sozinha
A contagem é regressiva: Faltam agora 9 jornais! É jornal pra caramba!!! Mas o bom é que tô tendo muito tempo pra passar só comigo... Escapar e fazer pequenas vontades.
Ontem, na hora do almoço fui no fliperama! Cansei da tv e fui brincar um pouco... A vida tava séria demais!
Durante a brincadeira descobri coisas incríveis... Tive a certeza que eu ainda sou muito adolescente e com uma vantagem... Sou adulta o bastante para bancar quase todas as minhas vontades. Perfeito, não?
Parece óbvio, mas eu não tinha pensado nisso! Aliás, nos últimos meses tenho descoberto um monte de coisa que eu não sabia...
Fiquei com vontade de almoçar hambúrguer, almocei! Quis tomar sorvete - ninguém pra dizer melhor não... - fui lá e tomei! Joguei fliperama até cansar... Carrinho, moto...
Depois quis chocolate... Aí... é segredo - Roubei garrafinha de licor da Kopenhagen! Hehehe!!! Tava todo mundo tão ocupado vendendo e comprando panetone que nem percebeu! Nossa, que vergonha!!!
(Ok, sem vergonha... faz parte do pacote! Adolescente é mesmo assim...)
De noite fiquei brincando com meu brinquedo novo. Um notebook, que eu comprei! É muito legal poder comprar os próprios brinquedos!!!
Além disso, agora ninguém me segura, vou virar escritora... Nem que seja de novela mexicana! Sou praticamente o ídolo da minha infância!!!
Dormi tarde, acordei cedo!
Tô trabalhando de novo, mas tenho planos! Quero me divertir na hora do almoço! Esticar o tempo o quanto eu posso e aprontar mais alguma bobagem, que eu, tonta, tô adorando fazer!
Na verdade, ficar sozinha tempo demais é ruim... O coração continua cada vez mais apertado... Mas como não tem outro jeito, tô fazendo o melhor pra passar bem essa semana de emoções fortes e... de plantão!!!
Acho que é um bom fecho pro meu ciclo de auto conhecimento... Depois de tanto rolê, agora sou eu comigo, por aqui mesmo! Se eu passar por essa, acho que páro de fugir... E tô pronta pra qq uma, pra qq coisa!
Parece filosofia barata, mas é mesmo dentro da gente que os sentimentos não precisam de motivos, nem os desejos de razão... Descubrir isso liberta!
Ok! Ainda não consegui tomar a rédea da minha vida... Há muito por ser feito... Surtos são iminentes...
Mas tô mais tolerante comigo, como nunca estive e isso me deixa um pouquinho feliz.
Consigo entender cada dia melhor o que significa liberdade. Mas com esse brinquedo, definitivamente, não é sozinha que eu estou aprendendo a brincar...
Ontem, na hora do almoço fui no fliperama! Cansei da tv e fui brincar um pouco... A vida tava séria demais!
Durante a brincadeira descobri coisas incríveis... Tive a certeza que eu ainda sou muito adolescente e com uma vantagem... Sou adulta o bastante para bancar quase todas as minhas vontades. Perfeito, não?
Parece óbvio, mas eu não tinha pensado nisso! Aliás, nos últimos meses tenho descoberto um monte de coisa que eu não sabia...
Fiquei com vontade de almoçar hambúrguer, almocei! Quis tomar sorvete - ninguém pra dizer melhor não... - fui lá e tomei! Joguei fliperama até cansar... Carrinho, moto...
Depois quis chocolate... Aí... é segredo - Roubei garrafinha de licor da Kopenhagen! Hehehe!!! Tava todo mundo tão ocupado vendendo e comprando panetone que nem percebeu! Nossa, que vergonha!!!
(Ok, sem vergonha... faz parte do pacote! Adolescente é mesmo assim...)
De noite fiquei brincando com meu brinquedo novo. Um notebook, que eu comprei! É muito legal poder comprar os próprios brinquedos!!!
Além disso, agora ninguém me segura, vou virar escritora... Nem que seja de novela mexicana! Sou praticamente o ídolo da minha infância!!!
Dormi tarde, acordei cedo!
Tô trabalhando de novo, mas tenho planos! Quero me divertir na hora do almoço! Esticar o tempo o quanto eu posso e aprontar mais alguma bobagem, que eu, tonta, tô adorando fazer!
Na verdade, ficar sozinha tempo demais é ruim... O coração continua cada vez mais apertado... Mas como não tem outro jeito, tô fazendo o melhor pra passar bem essa semana de emoções fortes e... de plantão!!!
Acho que é um bom fecho pro meu ciclo de auto conhecimento... Depois de tanto rolê, agora sou eu comigo, por aqui mesmo! Se eu passar por essa, acho que páro de fugir... E tô pronta pra qq uma, pra qq coisa!
Parece filosofia barata, mas é mesmo dentro da gente que os sentimentos não precisam de motivos, nem os desejos de razão... Descubrir isso liberta!
Ok! Ainda não consegui tomar a rédea da minha vida... Há muito por ser feito... Surtos são iminentes...
Mas tô mais tolerante comigo, como nunca estive e isso me deixa um pouquinho feliz.
Consigo entender cada dia melhor o que significa liberdade. Mas com esse brinquedo, definitivamente, não é sozinha que eu estou aprendendo a brincar...
segunda-feira, dezembro 19, 2005
Tempo
O tempo é um negócio engraçado, mas nunca se engana.
Tem coisas que demoram, demoram demorando e a gente acaba esquecendo mesmo com toda a demora. Outras são rápidas e surgem tão de repente que antes que se perceba ficam para sempre.
Elas são generosas e vem como milagres... Ainda que não se acredite. Vem de onde e quando menos se espera.
Surpresas que inundam a vida da gente de alegria. Rompem a rotina. Bagunçam tudo! Deixam o mundo deliciosamente mais colorido...
Por falar em mundo... O meu amanheceu meio desbotado, quase preto-e-branco. Até o sol ficou com preguiça e desistiu de fazer calor.
Tenho frio e é culpa do tempo... Mesmo que outro... Outro tempo... O tempo, aquele, que não se engana.
A falta de previsão me assusta, logo eu que nunca acreditei em previsão do tempo. Em previsão nenhuma.
Sempre duvidei das certezas, devia estar feliz com a imprevisão. Estou. Não estou.
Menina dos imprevistos, da surpresa, do inesperado... Tudo bobagem!
Boba menina... Sábia menina... Saudade de outra menina.
Mas o tempo é mesmo um negócio engraçado. Às vezes precisamos de tanto, às vezes de tão pouco... O tempo! Ah o tempo é um negócio engraçado e que nunca se engana.
O sol apareceu, mas continua escondido. Voltou a chover... Em mim. E antes que inunde... Vou parar. Pegar uma blusa. Poupar o leitor...
Eu que sempre acelerei, vou aprendendo a ir sem pressa...
Pra quê pressa?
Vai continuar frio e sobrar tempo demais pra escrever nos próximos dias...
Tem coisas que demoram, demoram demorando e a gente acaba esquecendo mesmo com toda a demora. Outras são rápidas e surgem tão de repente que antes que se perceba ficam para sempre.
Elas são generosas e vem como milagres... Ainda que não se acredite. Vem de onde e quando menos se espera.
Surpresas que inundam a vida da gente de alegria. Rompem a rotina. Bagunçam tudo! Deixam o mundo deliciosamente mais colorido...
Por falar em mundo... O meu amanheceu meio desbotado, quase preto-e-branco. Até o sol ficou com preguiça e desistiu de fazer calor.
Tenho frio e é culpa do tempo... Mesmo que outro... Outro tempo... O tempo, aquele, que não se engana.
A falta de previsão me assusta, logo eu que nunca acreditei em previsão do tempo. Em previsão nenhuma.
Sempre duvidei das certezas, devia estar feliz com a imprevisão. Estou. Não estou.
Menina dos imprevistos, da surpresa, do inesperado... Tudo bobagem!
Boba menina... Sábia menina... Saudade de outra menina.
Mas o tempo é mesmo um negócio engraçado. Às vezes precisamos de tanto, às vezes de tão pouco... O tempo! Ah o tempo é um negócio engraçado e que nunca se engana.
O sol apareceu, mas continua escondido. Voltou a chover... Em mim. E antes que inunde... Vou parar. Pegar uma blusa. Poupar o leitor...
Eu que sempre acelerei, vou aprendendo a ir sem pressa...
Pra quê pressa?
Vai continuar frio e sobrar tempo demais pra escrever nos próximos dias...
terça-feira, dezembro 13, 2005
Hoje foi dia...
Dia de se perder, quem sabe de se achar...
Escrevi muito...
Quem sabe um dia eu publique. Quem sabe, não...
Escrevi muito...
Quem sabe um dia eu publique. Quem sabe, não...
sábado, dezembro 10, 2005
Hoje pensei muito na minha avó...
Foi um dia dificil... Cheio de fatos sobre os quais ainda não consigo falar. Só sei que muitas vezes, quando eu me confundo com meus sentimentos, lembro dela...
Minha avó me ensinou muito sobre o amor! A história da minha vida e a e do jeito dela de amar estão muito ligadas, se confundem. Ela sempre me amou muito, mas eu, desde muito cedo procurei mostrar a ela que eu era livre e não cabia em seu colo protetor. Pousava por lá, sempre que precisava de força, mas em seguida voava. Foram anos, aprendendo e ensinando minha avozinha, a dosar o amor... Ensinando que era possível, amar com toda a intensidade, sem sufocar o que se ama.
No fim da vida, ela – pelo menos comigo – encontrou o caminho. Estava sempre ali, por perto. Enfeitava os bastidores da minha vida com o capricho de suas mãos caprichosas e seu coração generoso. Sempre tinha um abraço quentinho, despretensioso me esperando e aquele olhar pidão – pleno, e ao mesmo tempo carente do meu afeto.
Um paradoxo, porque ela se foi com a minha lição, muitas de minhas certezas e me deixou a herança do exagero. Há cinco anos, fiquei órfã de um dos pesos mais fortes que me equilibravam. Não soube lapidar a herança... Estraguei o tesouro e andei amando demais, amando de menos... No meio de tudo, tomei um porre de amor daqueles de ressaca comprida. Comprida e ainda não cumprida.
Me prendi tanto e por tanto tempo, com medo de, de novo, amar demais... Que hoje sou pura paixão e tenho medo do amor.
São tantos os paradoxos...
Foram anos fugindo de mim, me apaixonando por ai e escapando sempre um pouco antes de me entregar. Foi assim com o trabalho... Foi assim com os amigos, com os relacionamentos, com os meus sonhos. Foi assim em São Paulo, em Floripa, em Rio Preto, Araçatuba... De novo em São Paulo...
Tô tonta de tanto rodar... Não reclamo. Me encontrei um pouquinho em cada canto. Continuo procurando, mas aprendi a me cuidar, ser auto-suficiente, a me divertir comigo mesma, a confiar em mim, a ser egoísta...
Mas ser sozinha cansa... Mesmo quando estar sozinha parece ser tudo o que se quer. E é muito cansada que hoje me percebi no caminho de volta... Percebi que tudo que eu quero é um colo quentinho, pra pousar ... é ter alguém pra voar junto, de vez em quando... Alguém pra dividir o que a Nadia, inteira, anda fazendo e descobrindo por ai, mesmo quando voa sozinha.
Tive que desaprender tanto pra aprender o que minha criança já sabia... Hoje tenho que me virar sem minha professora/aprendiz e perder por minha conta a dividir esse meu medo de mim.
Minha avó me ensinou muito sobre o amor! A história da minha vida e a e do jeito dela de amar estão muito ligadas, se confundem. Ela sempre me amou muito, mas eu, desde muito cedo procurei mostrar a ela que eu era livre e não cabia em seu colo protetor. Pousava por lá, sempre que precisava de força, mas em seguida voava. Foram anos, aprendendo e ensinando minha avozinha, a dosar o amor... Ensinando que era possível, amar com toda a intensidade, sem sufocar o que se ama.
No fim da vida, ela – pelo menos comigo – encontrou o caminho. Estava sempre ali, por perto. Enfeitava os bastidores da minha vida com o capricho de suas mãos caprichosas e seu coração generoso. Sempre tinha um abraço quentinho, despretensioso me esperando e aquele olhar pidão – pleno, e ao mesmo tempo carente do meu afeto.
Um paradoxo, porque ela se foi com a minha lição, muitas de minhas certezas e me deixou a herança do exagero. Há cinco anos, fiquei órfã de um dos pesos mais fortes que me equilibravam. Não soube lapidar a herança... Estraguei o tesouro e andei amando demais, amando de menos... No meio de tudo, tomei um porre de amor daqueles de ressaca comprida. Comprida e ainda não cumprida.
Me prendi tanto e por tanto tempo, com medo de, de novo, amar demais... Que hoje sou pura paixão e tenho medo do amor.
São tantos os paradoxos...
Foram anos fugindo de mim, me apaixonando por ai e escapando sempre um pouco antes de me entregar. Foi assim com o trabalho... Foi assim com os amigos, com os relacionamentos, com os meus sonhos. Foi assim em São Paulo, em Floripa, em Rio Preto, Araçatuba... De novo em São Paulo...
Tô tonta de tanto rodar... Não reclamo. Me encontrei um pouquinho em cada canto. Continuo procurando, mas aprendi a me cuidar, ser auto-suficiente, a me divertir comigo mesma, a confiar em mim, a ser egoísta...
Mas ser sozinha cansa... Mesmo quando estar sozinha parece ser tudo o que se quer. E é muito cansada que hoje me percebi no caminho de volta... Percebi que tudo que eu quero é um colo quentinho, pra pousar ... é ter alguém pra voar junto, de vez em quando... Alguém pra dividir o que a Nadia, inteira, anda fazendo e descobrindo por ai, mesmo quando voa sozinha.
Tive que desaprender tanto pra aprender o que minha criança já sabia... Hoje tenho que me virar sem minha professora/aprendiz e perder por minha conta a dividir esse meu medo de mim.
domingo, dezembro 04, 2005
Domingo de plantão...
Domingo de plantão é sempre esquisito. O tempo passa lento. Sempre faz sol e a gente fica mais sensível...
Indo trabalhar fiquei reparando em como a cidade fica bonita com pouca gente, menos pressa. Todo mundo parece mais feliz. E eu fico com preguiça dessa vida de gente grande.
Eu, pequena e menina me assusto com a redação vazia.
Por alguns instantes, saio da ilha e viajo pra praia... Volto!
Posso ouvir a respiração dos solitários. Vez ou outra toca o telefone... Alô! E aí filhinho como foi na festa? Comeu direitinho? Não esquece de escovar os dentes... Momentos que se perdem, e só eu sou testemunha.
O trabalho não é muito, mas rende pouco.
A tarde vai... Percebo que já é tarde e eu continuo por aqui.
Olhar perdido, de olho na segunda, cada hora mais perto.
Medo da semana que recomeça, sem o fim-de-semana.
Devia ser proibido trabalhar domingo!
Indo trabalhar fiquei reparando em como a cidade fica bonita com pouca gente, menos pressa. Todo mundo parece mais feliz. E eu fico com preguiça dessa vida de gente grande.
Eu, pequena e menina me assusto com a redação vazia.
Por alguns instantes, saio da ilha e viajo pra praia... Volto!
Posso ouvir a respiração dos solitários. Vez ou outra toca o telefone... Alô! E aí filhinho como foi na festa? Comeu direitinho? Não esquece de escovar os dentes... Momentos que se perdem, e só eu sou testemunha.
O trabalho não é muito, mas rende pouco.
A tarde vai... Percebo que já é tarde e eu continuo por aqui.
Olhar perdido, de olho na segunda, cada hora mais perto.
Medo da semana que recomeça, sem o fim-de-semana.
Devia ser proibido trabalhar domingo!
quinta-feira, novembro 17, 2005
Desabandono
Ser humano tem mania de dar nome em tudo. Em coisa, em bicho, nas pessoas... No que se mexe e até no que nem mexe com a gente.
A semiótica explica isso como herança de nossos ancestrais, mania nossa, desde os primeiros uga-ugas... De fato, ao recortar os sons e atribuir-lhes significado nomeamos mundo e acabamos trocamos a vida real por milhões de palavras.
Longe de mim, querer criticar o raio da história e bem elas, as palavras que são a matéria-prima do meu sustento. Mas penso que isso nos deixa marcas ainda mais profundas. Quando trocamos a realidade por símbolos, nos transformamos em rotuladores da vida.
Sem perceber, viramos adjetivos, amamos pronomes e não temos mais do que substantivos. O risco de nos tornarmos escravos das convenções é grande!
Abandonei o abandono e entrei numa fase inventante.
Que esse avesso todo, sem nome, subverta!
A semiótica explica isso como herança de nossos ancestrais, mania nossa, desde os primeiros uga-ugas... De fato, ao recortar os sons e atribuir-lhes significado nomeamos mundo e acabamos trocamos a vida real por milhões de palavras.
Longe de mim, querer criticar o raio da história e bem elas, as palavras que são a matéria-prima do meu sustento. Mas penso que isso nos deixa marcas ainda mais profundas. Quando trocamos a realidade por símbolos, nos transformamos em rotuladores da vida.
Sem perceber, viramos adjetivos, amamos pronomes e não temos mais do que substantivos. O risco de nos tornarmos escravos das convenções é grande!
Abandonei o abandono e entrei numa fase inventante.
Que esse avesso todo, sem nome, subverta!
terça-feira, novembro 08, 2005
LIBRA (23/09 A 22/10)
Terça-Feira , 08 de Novembro de 2005
"Não culpe a escassez para explicar sua insatisfação, libriano. Reflita sobre o seu papel nas dificuldades materiais ou emocionais que esteja enfrentando. Uma nova forma de intimidade e de união precisa acontecer. É tudo ou nada, nativo de Libra."
"Não culpe a escassez para explicar sua insatisfação, libriano. Reflita sobre o seu papel nas dificuldades materiais ou emocionais que esteja enfrentando. Uma nova forma de intimidade e de união precisa acontecer. É tudo ou nada, nativo de Libra."
domingo, junho 19, 2005
Lição de poesia
Quando se sonha antes mesmo de dormir e se acorda na crise da desesperança, bagunça. Por isso, há neste verso cumprido um resto qualquer de inconformismo.
Viro, reviro, canso.
Chego ao limite do tédio às convenções e a tudo que é previsível.
Acabaram quase todas as certezas, resta apenas uma: entre a primeira letra e o ponto final sou eu, talvez outra. Ou seja, nenhuma.
Hoje lembrei que o mundo são regras milhares. E todas sem sentido.
Há quanto tempo como sem fome, só porque está na hora.
Durmo, sem sono, só porque é preciso descansar. Descansar de quê?
Quando foi que me acostumei com o bom dia frio dos despertadores?
Me pergunto mais, me pergunto muito!
Cadê a alegria e a falta de medo?
Onde perdi as minhas dúvidas? E eram tantas...
Onde ficaram meu encantamento, minhas descobertas?
Há tanto por saber. Demais para um peito quase endurecido. Bruto.
Sinto que vago, vagamos e só. E há covardia por toda a parte. E há motivos demais para se fazer coisas sem sentido.
O costume é companheiro fiel e é ele que tanto nos trai.
No tempo da desesperança, acredita-se tão pouco em liberdade que fica difícil arriscar. Quando se ousa, o esforço é tamanho que acomoda. Não se tenta nunca mais.
Quando se ama uma vez só, ama-se mal e morre-se para o amor.
Não quero morrer.
Viro, reviro, canso.
Chego ao limite do tédio às convenções e a tudo que é previsível.
Acabaram quase todas as certezas, resta apenas uma: entre a primeira letra e o ponto final sou eu, talvez outra. Ou seja, nenhuma.
Hoje lembrei que o mundo são regras milhares. E todas sem sentido.
Há quanto tempo como sem fome, só porque está na hora.
Durmo, sem sono, só porque é preciso descansar. Descansar de quê?
Quando foi que me acostumei com o bom dia frio dos despertadores?
Me pergunto mais, me pergunto muito!
Cadê a alegria e a falta de medo?
Onde perdi as minhas dúvidas? E eram tantas...
Onde ficaram meu encantamento, minhas descobertas?
Há tanto por saber. Demais para um peito quase endurecido. Bruto.
Sinto que vago, vagamos e só. E há covardia por toda a parte. E há motivos demais para se fazer coisas sem sentido.
O costume é companheiro fiel e é ele que tanto nos trai.
No tempo da desesperança, acredita-se tão pouco em liberdade que fica difícil arriscar. Quando se ousa, o esforço é tamanho que acomoda. Não se tenta nunca mais.
Quando se ama uma vez só, ama-se mal e morre-se para o amor.
Não quero morrer.
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