domingo, agosto 13, 2006

Profissão mulher


Defendi a reportagem desde a primeira reunião de pauta do quadro, em abril. Foram meses esperando a hora certa de sair a campo... Quando finalmente cheguei no Recife, achava que estava preparada... Me enganei. Logo na primeira entrevista, com as mulheres do apitaço, fiquei com medo! Só ali e naquele momento, testemunhando a força daquelas pernambucanas senti o tamanho da responsabilidade do que estávamos fazendo.

Com o passar dos dias e a convivência com outras histórias de grito e silêncio... O medo foi virando coragem. Coragem pra traduzir a dor das famílias que perderam mães, filhas, irmãs... Coragem pra ouvir a voz dos agressores.

Foram dias de entrega em que digeri como pude a revolta da Nádia mulher, da Nádia jornalista, da Nádia feminista.

Cresci ouvindo de mulheres que amo e admiro, histórias de violência doméstica. Foi impossível não levá-las comigo a delegacia, a periferia de Caruaru, a Olinda... Essas vítimas - as de minha memória e as ainda presentes - me acompanharam por todo lugar. Se identificaram com muitas das dores que testemunhei e sem dúvida me ajudaram a merecer a confiança das donas dos gritos; silenciosos, ou não.

Ao registrar a ousadia dessas novas vítimas, que não se esconderam em nenhum momento da nossa câmera, de alguma forma senti que além de dar voz a suas angustias, também dividi com elas meu próprio inconformismo.

No jornalismo se discute muito a imparcialidade. Nessa reportagem assumo, fui parcial! Não poderia agir de outro jeito; afinal antes de ser repórter sou mulher! Essa é uma vantagem do quadro, ele te permite ser humano; com suas convicções e vivências, sem deixar de ser repórter.

Talvez não seja possível mudar o mundo simplesmente com histórias e palavras... Mas saio dessa reportagem com mais certeza, de que se elas ajudarem as pessoas a identificarem sua situação de opressão e lhes derem informação como arma pra reagir, o trabalho valeu a pena.

Assista a reportagem: http://gmc.globo.com/GMC/1,,2465-p-M521044,00.html

Profissão Repórter

domingo, agosto 06, 2006

Parada obrigatória

Quando a gente acelera demais, a vida dá um jeito de obrigar a gente a parar. E... Ontem foi dia.
Bati o carro chegando em casa, fatigada, dormindo ao volante.
Com o susto e o estrago eu devia ter ficado nervosa. Não fiquei.
Uma calma de quem sabe que o mundo não pára por acaso tomou conta de mim.
O tempo segue me atropelando, mas o recado tá dado. Se eu quiser sobreviver a velocidade dos dias é melhor me manter viva, acordada e descansada... Principalmente de noite.