domingo, dezembro 25, 2005

Que venha 2006!!!

Despedir-se de 2006 é difícil. Foi sem dúvida o ano mais intenso da minha vida. Começou na virada, cheia de expectativa, que passamos, minha família e eu, na terra do boi – literalmente e no sentido figurado. Era uma churrascaria, era Araçatuba.

Meses depois guardei na gaveta o sonho, já bem concreto e realizado. Voltei pra casa repórter! ...Sem a mínima idéia de como era a hora certa! Ganhei o Ação de presente! Aí foram seis meses de mergulho profundo por um Brasil que eu só conhecia na imaginação.

A viagem começou por Minas Gerais. Primeiro BH, onde testemunhei como a magia do circo é capaz de devolver a quem perdeu a infância, bem cedo, a capacidade de sonhar.
Veio a literatura. Veio Cordisburgo, uma cidade pequenina bem Minas, Brasil de dentro... Terra de Guimarães Rosa, onde seus miguilins resistem ao tempo e a modernidade contando as histórias dos sertanejos. De lá, descobri Itabira e me encontrei com Drummond.
Ele estava por toda parte. O vi nos morros sangrados pela mineração, no povo de ferro orgulhoso, "noventa porcento de ferro nas calçadas, oitenta porcento de ferro nas almas"... Estava na casa onde nasceu e nos seus drummonzinhos talentosos...
Em São João Del Rei, o oposto da poesia.
A freira exploradora de criancinhas, a hipocrisia da Igreja e a cumplicidade reacionária de uma política do século passado.

Ceará.
O sertão, a Fortaleza.
Aracati das cabritas, da gente de pouca fala e coração generoso. Por lá, descobri que da aridez da terra emerge uma força que só quem tem fome de tudo conhece.
Canoa quebrada, ilusão pra turista... Em Icapuí, Ah Icapuí... Descoberta do paraíso! Cidade de pescadores organizados que fazem sua própria política. Litoral de falésias, de cabanas, de mangues sem fim. Lição de como homem e natureza podem ser parceiros de igual pra igual, sem dominação.

Paraná. Londrina – karatê.
Em um sobrado quase escondido, visitei um grupo de idosos, que se reúne dia sim, dia não para lutar pela vida. Com eles, aprendi que não é preciso mais do que movimentos lentos, muitas vezes imprecisos e claro, alegria para vencer inimigos fortes como o medo, o tempo e a solidão.

Maringá – honestidade.
Como esquecer Dona Ione, que me recebeu no sofazinho de casa como se eu fosse da família. Dividiu comigo seus arquivos secretos. Lembranças dos prêmios que recebeu por, pasmem! Ser honesta. “No Brasil é tudo tão estranho que ganhei um monte de coisa só por fazer o que aprendi que é certo.”
D. Ione, foi a primeira brasileira a devolver o cartão do bolsa-família. Quando o marido, há meses desempregado conseguiu trabalho e um salário de 300 reais, ela achou injusto continuar recebendo o auxílio de 50 reais e enfrentou a burocracia de um sistema que não foi preparado para iniciativas como a dela. Ou seja, pra gente honesta... Quando perguntei por quê tanto empenho... A resposta: “Há gente que precisa bem mais do que eu”.

Do Paraná para Cuiabá.
Confesso que não esperava tanta beleza. O Mato Grosso me fez apaixonar! Fui pra lá duvidando do poder do hip-hop da periferia cuiabana e acabei surpresa com a capacidade de reinvenção do movimento urbano. Surpresa também com o idealismo de gente como o mestre Marcelo, que transformou a garagem alugada de 3mX5m em academia de jiu-jitsu para tirar da rua crianças e jovens que não tinham por quê lutar.
Tive meus momentos de êxtase. Vi a chapada dos Guimarães e fiquei tonta com tanta beleza. Nadei em cachoeira, conversei com mãe d´água e visitei a Cidade de Pedra.
Rally no areião.
Desafio, auto-conhecimento...
Rara beleza.

Depois fui pro Rio.
Passei um medo danado, mas contei algumas de suas histórias. A de Luciana que enfrenta a falta de perspectiva cantando. A de tantos de seus colegas de Galpão Aplauso... Gente que pinta, interpreta, faz circo e dribla o temor sonhando bem acordado.

Em Niterói, no campinho improvisado, o sonho da bola.

Do Recife, Cidade do Cabo... E lá a descoberta concreta do feminismo.
Uma associação, uma rádio. Centenas e milhares de mulheres envolvidas num projeto de empoderamento. Feminismo real!
Dança que devolve dignidade. Práticas incansáveis de convencimento em plena zona da mata.
Pequenas vitórias.
Possibilidade de escolha. O poder do diálogo...
Enfrentamento do machismo no engenho e na cidade.
Feminismo que não é bandeira, nem passado, nem palanque, nem literatura.
Guerra diária contra o patriarcado.
Resposta a violência.
Direito de dizer não.

Rolê por um Brasil de muitas sotaques, mas uma única voz, que não precisa gritar para ser ouvida... E hoje, lembrando de todos esses personagens que me honram como pessoa e como jornalista sei como essa foi a grande lição. Fazer a voz ecoar, sem gritar...

O mês passado, essa viagem terminou. Outras virão, mas jamais a esquecerei. Hoje estou editora, a alma ainda é repórter, quem sabe um pouco mais madura, um pouco mais infantil - reflexo de tanto exercitar o olhar inocente.

Sei que desço do bonde 2005 muito mais apaixonada pelas pessoas de cada rincão dessa terra. Gente que luta, e que, sem dúvida, dão um sentido maior a minha vida e o meu trabalho. Não posso agradecer a cada uma delas. Jamais poderei. Gratidão grande demais... Mas prometo que com a ajuda de Deus e o apoio de todos que amo, farei deste ANO NOVO, novinho em folha, uma viagem ainda melhor! Que venha 2006!!!

quinta-feira, dezembro 22, 2005

A verdadeira arte de viajar

A gente sempre deve sair à rua como quem foge de casa,
Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo.Não importa que os compromissos, as obrigações, estejam ali...
Chegamos de muito longe, de alma aberta e o coração cantando!
(Quintana in "A cor do invisível")

Adoro Mário Quintana.

Conversamos agora pouco.
Depois de um dia tentando me conformar, encontrei uma frase dele perdida dentro de uma carta:
"As coisas não se perdem, só mudam de dono".
Muitas coisas minhas mudaram de dono, ontem.
Talvez...
Não sei se concordo com isso, mas a frase me fez pensar...
Já que eu não tenho dono, me conformo, por fim. Afinal, por quê elas teriam?

quarta-feira, dezembro 21, 2005

157

...Assalto à mao armada.

- Sai do carro, sai do carro!!! Se tentar eu atiro!! Sai, sai!!!

Eram 3 moleques, tinham menos de 15 anos e um revólver. Eu?
Só tinha medo.

Me abordaram na porta de casa... Chegando de 12 horas de trampo.
Meu carro, minha bolsa, o celular... Tudo sumiu na esquina com o barulho forte do carro desgovernando.
Não lembro da sequência exata dos fatos... Minha cabeça ainda é susto, desordem...
Tenho flashes confusos que se misturam. Delegacia, telefonemas intermináveis, musiquinhas de espera. Muita espera... Policiais em casa, no dp. Baratas. Burocracia. Fome, sono, impotência... Sentimento que não suporto!

Madrugada dificil, mas encontraram o carro. Sem som, sem todos os meus cds, sem meu porta-cds! Sem bolsa, sem celular.
Eu, sem sossego.

Noite comprida!
Violenta, revoltosa... Resignada.
Fragmentos dificeis de organizar que me confundiram o dia todo.
Nao fui trabalhar, nao consegui. Pelo menos, agora faltam só seis jornais.
Pulei dois...

Poucos sustos me assustaram tanto.
Quando ele passar, volto a escrever.

terça-feira, dezembro 20, 2005

Dias de brincar sozinha

A contagem é regressiva: Faltam agora 9 jornais! É jornal pra caramba!!! Mas o bom é que tô tendo muito tempo pra passar só comigo... Escapar e fazer pequenas vontades.

Ontem, na hora do almoço fui no fliperama! Cansei da tv e fui brincar um pouco... A vida tava séria demais!

Durante a brincadeira descobri coisas incríveis... Tive a certeza que eu ainda sou muito adolescente e com uma vantagem... Sou adulta o bastante para bancar quase todas as minhas vontades. Perfeito, não?
Parece óbvio, mas eu não tinha pensado nisso! Aliás, nos últimos meses tenho descoberto um monte de coisa que eu não sabia...

Fiquei com vontade de almoçar hambúrguer, almocei! Quis tomar sorvete - ninguém pra dizer melhor não... - fui lá e tomei! Joguei fliperama até cansar... Carrinho, moto...

Depois quis chocolate... Aí... é segredo - Roubei garrafinha de licor da Kopenhagen! Hehehe!!! Tava todo mundo tão ocupado vendendo e comprando panetone que nem percebeu! Nossa, que vergonha!!!
(Ok, sem vergonha... faz parte do pacote! Adolescente é mesmo assim...)

De noite fiquei brincando com meu brinquedo novo. Um notebook, que eu comprei! É muito legal poder comprar os próprios brinquedos!!!
Além disso, agora ninguém me segura, vou virar escritora... Nem que seja de novela mexicana! Sou praticamente o ídolo da minha infância!!!

Dormi tarde, acordei cedo!
Tô trabalhando de novo, mas tenho planos! Quero me divertir na hora do almoço! Esticar o tempo o quanto eu posso e aprontar mais alguma bobagem, que eu, tonta, tô adorando fazer!

Na verdade, ficar sozinha tempo demais é ruim... O coração continua cada vez mais apertado... Mas como não tem outro jeito, tô fazendo o melhor pra passar bem essa semana de emoções fortes e... de plantão!!!

Acho que é um bom fecho pro meu ciclo de auto conhecimento... Depois de tanto rolê, agora sou eu comigo, por aqui mesmo! Se eu passar por essa, acho que páro de fugir... E tô pronta pra qq uma, pra qq coisa!

Parece filosofia barata, mas é mesmo dentro da gente que os sentimentos não precisam de motivos, nem os desejos de razão... Descubrir isso liberta!
Ok! Ainda não consegui tomar a rédea da minha vida... Há muito por ser feito... Surtos são iminentes...
Mas tô mais tolerante comigo, como nunca estive e isso me deixa um pouquinho feliz.

Consigo entender cada dia melhor o que significa liberdade. Mas com esse brinquedo, definitivamente, não é sozinha que eu estou aprendendo a brincar...

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Tempo

O tempo é um negócio engraçado, mas nunca se engana.
Tem coisas que demoram, demoram demorando e a gente acaba esquecendo mesmo com toda a demora. Outras são rápidas e surgem tão de repente que antes que se perceba ficam para sempre.

Elas são generosas e vem como milagres... Ainda que não se acredite. Vem de onde e quando menos se espera.
Surpresas que inundam a vida da gente de alegria. Rompem a rotina. Bagunçam tudo! Deixam o mundo deliciosamente mais colorido...

Por falar em mundo... O meu amanheceu meio desbotado, quase preto-e-branco. Até o sol ficou com preguiça e desistiu de fazer calor.
Tenho frio e é culpa do tempo... Mesmo que outro... Outro tempo... O tempo, aquele, que não se engana.

A falta de previsão me assusta, logo eu que nunca acreditei em previsão do tempo. Em previsão nenhuma.
Sempre duvidei das certezas, devia estar feliz com a imprevisão. Estou. Não estou.
Menina dos imprevistos, da surpresa, do inesperado... Tudo bobagem!
Boba menina... Sábia menina... Saudade de outra menina.

Mas o tempo é mesmo um negócio engraçado. Às vezes precisamos de tanto, às vezes de tão pouco... O tempo! Ah o tempo é um negócio engraçado e que nunca se engana.

O sol apareceu, mas continua escondido. Voltou a chover... Em mim. E antes que inunde... Vou parar. Pegar uma blusa. Poupar o leitor...
Eu que sempre acelerei, vou aprendendo a ir sem pressa...
Pra quê pressa?
Vai continuar frio e sobrar tempo demais pra escrever nos próximos dias...

terça-feira, dezembro 13, 2005

Hoje foi dia...

Dia de se perder, quem sabe de se achar...
Escrevi muito...
Quem sabe um dia eu publique. Quem sabe, não...

sábado, dezembro 10, 2005

Hoje pensei muito na minha avó...

Foi um dia dificil... Cheio de fatos sobre os quais ainda não consigo falar. Só sei que muitas vezes, quando eu me confundo com meus sentimentos, lembro dela...

Minha avó me ensinou muito sobre o amor! A história da minha vida e a e do jeito dela de amar estão muito ligadas, se confundem. Ela sempre me amou muito, mas eu, desde muito cedo procurei mostrar a ela que eu era livre e não cabia em seu colo protetor. Pousava por lá, sempre que precisava de força, mas em seguida voava. Foram anos, aprendendo e ensinando minha avozinha, a dosar o amor... Ensinando que era possível, amar com toda a intensidade, sem sufocar o que se ama.

No fim da vida, ela – pelo menos comigo – encontrou o caminho. Estava sempre ali, por perto. Enfeitava os bastidores da minha vida com o capricho de suas mãos caprichosas e seu coração generoso. Sempre tinha um abraço quentinho, despretensioso me esperando e aquele olhar pidão – pleno, e ao mesmo tempo carente do meu afeto.

Um paradoxo, porque ela se foi com a minha lição, muitas de minhas certezas e me deixou a herança do exagero. Há cinco anos, fiquei órfã de um dos pesos mais fortes que me equilibravam. Não soube lapidar a herança... Estraguei o tesouro e andei amando demais, amando de menos... No meio de tudo, tomei um porre de amor daqueles de ressaca comprida. Comprida e ainda não cumprida.

Me prendi tanto e por tanto tempo, com medo de, de novo, amar demais... Que hoje sou pura paixão e tenho medo do amor.

São tantos os paradoxos...

Foram anos fugindo de mim, me apaixonando por ai e escapando sempre um pouco antes de me entregar. Foi assim com o trabalho... Foi assim com os amigos, com os relacionamentos, com os meus sonhos. Foi assim em São Paulo, em Floripa, em Rio Preto, Araçatuba... De novo em São Paulo...

Tô tonta de tanto rodar... Não reclamo. Me encontrei um pouquinho em cada canto. Continuo procurando, mas aprendi a me cuidar, ser auto-suficiente, a me divertir comigo mesma, a confiar em mim, a ser egoísta...

Mas ser sozinha cansa... Mesmo quando estar sozinha parece ser tudo o que se quer. E é muito cansada que hoje me percebi no caminho de volta... Percebi que tudo que eu quero é um colo quentinho, pra pousar ... é ter alguém pra voar junto, de vez em quando... Alguém pra dividir o que a Nadia, inteira, anda fazendo e descobrindo por ai, mesmo quando voa sozinha.

Tive que desaprender tanto pra aprender o que minha criança já sabia... Hoje tenho que me virar sem minha professora/aprendiz e perder por minha conta a dividir esse meu medo de mim.

domingo, dezembro 04, 2005

Domingo de plantão...

Domingo de plantão é sempre esquisito. O tempo passa lento. Sempre faz sol e a gente fica mais sensível...
Indo trabalhar fiquei reparando em como a cidade fica bonita com pouca gente, menos pressa. Todo mundo parece mais feliz. E eu fico com preguiça dessa vida de gente grande.

Eu, pequena e menina me assusto com a redação vazia.
Por alguns instantes, saio da ilha e viajo pra praia... Volto!
Posso ouvir a respiração dos solitários. Vez ou outra toca o telefone... Alô! E aí filhinho como foi na festa? Comeu direitinho? Não esquece de escovar os dentes... Momentos que se perdem, e só eu sou testemunha.

O trabalho não é muito, mas rende pouco.
A tarde vai... Percebo que já é tarde e eu continuo por aqui.
Olhar perdido, de olho na segunda, cada hora mais perto.
Medo da semana que recomeça, sem o fim-de-semana.

Devia ser proibido trabalhar domingo!