quinta-feira, agosto 13, 2009

IPÊ AMARELO


É inverno e a maioria das flores está calada. Os galhos nus, tímidos. As folhas no chão, entregues ao vento.
Não todas, algumas árvores são resistência. Pelo menos a minha preferida é.
Ela tem nome de cor, Ipê Amarelo.

Não tem medo do frio.
Como tudo que surpreende, é vida que brota dos galhos quando menos se espera. Vida dourada que se equilibra quase planando de tão leve entre as copas.
Contagiante, mágica.
Sim, porque além da beleza guarda um poder especial: minha avó me ensinou que ela realiza desejos!!

Acredito tanto nisso!!! Cada Ipê é um convite pra um sonho.
Aprendi que quem abraça uma árvore florida e divide com ela uma vontade da alma - daquelas bem verdadeiras - realiza o que pede.

E mais, meu Ipê é tão generoso que entende a pressa do dia-a-dia e aceita pedidos feitos de longe, ainda que só com a intenção do abraço.
Ele quer ser visto! Notado. Quer dividir com quem percebe suas cores que sempre é tempo de florir, ainda que faça frio.

Seu encanto é breve. Me inspira, avassala.

Ainda na primavera as flores se vão. Deixam os galhos vazios de seu brilho amarelo, anônimos, quase imperceptíveis durante o verão e o outono.
Tranquilos eles dormem, até que a nova vida dourada de sonhos ouse novamente com sua magia contrariar o inverno.

domingo, junho 21, 2009

Reforma


Esse caderno amanheceu com mais linhas.
Passei a noite relendo arquivos. Revivendo textos.
Publiquei lembranças quase esquecidas. Autocensuras egoístas.

Meu blog é coisa simples, lugar de despejar sensações.
Cada post tem milhares sentidos, marca um lugar no tempo. Tem pra mim o valor da memória.
Quando leio me desloco. Quem me lê também.
Só a sabedoria ingenua do não saber abre as portas.
Engatinho.

quinta-feira, março 19, 2009

Acordei egoísta

Saí de casa e logo de cara atrapalhei a passagem de uma mulher com um cachorro. Pra minha primeira surpresa, os dois sorriram.
Na rua de baixo foi a vez dos lixeiros. Eles moíam o lixo, que escorria do caminhão. Agarravam a sujeira que também era minha.
Eu, egoísta quase me incomodava porque que eles atrapalhavam meu trânsito quando, um deles sorriu. Me deu a passagem.
Depois do almoço, na sorveteria eu escolhia o sabor enquanto uma perua tentava insistentemente passar na minha frente. A atendente educada, pedia que ela esperasse. Peguei meu sorvete, fui pagar e a surpresa: estava sem dinheiro.
Não é que a perua, aquela que há instantes quase me irritava se ofereceu pra pagar. Me deu o sorvete, de graça e sorrindo.

A vida é assim, a gente dorme 28 anos coberta de certezas.
Um dia acorda sozinha, vazia de tantas delas.
Dura, egoísta!
Acorda sem o que pensava que sabia, nua do que se amava e de si mesma.
O dia começa triste. É inundado de gentileza.
Você lembra dos sorrisos, tem vontade de chorar.
Olha pro silêncio que tanto desejou e não reconhece.
E então?
Grata adormece, querendo acordar.