quarta-feira, setembro 22, 2010

Meus dias de ócio tem me deixado inspirada...

Talvez pela quantidade de horas absolutamante livres de qualquer responsabilidade, ou ainda pela falta de costume ao silêncio longo, recheado apenas do barulho do mar, da conversa sempre bem vinda da minha mãe e dos gritos de estranhos, nem tão bem vindos assim... (Gente que fala alto, na maioria das vezes precisa de atenção, mas nem sempre tem muita coissa interessante a dizer.)

Ignoro a última parte, até porque a semana a beira mar anda leve e quase perfeita. Sigo na tentativa de usar essa súbita inspiração matinal. Quero escrever, mas escrever sobre o quê?

Corro pro mar e vem a resposta. Quero falar da felicidade simples que é ficar molhada na praia.

Na beiradinha, especialmente em dias quentes como hoje a água é tão fria! Muitos se acovardam e fogem. Eu teimo em ser corajosa. Penso sempre na sensação final. O mergulho completo, o desafio a mim mesma. Vem o disparo e o choque. Uma quase dor inicial, mas assim que subo da onda sou nova!

É quando paro de sentir frio, paro de sentir medo.
Até que o corpo seque sigo com essa certeza molhada de que posso tudo!
Eis a magia da praia!
Quisera que fosse sempre simples assim: que quando a coragem escorresse, bastasse um novo mergulho.

quarta-feira, setembro 08, 2010

TUDO É SÓ ISSO

Meu pai há um bom tempo não tem merecido muitas homenagens.
Desde que meus pais se separam, uns 10 anos atrás temos nos afastado com muita velocidade.
Nessa mágica às avessas em que um herói perde aos poucos seus superpoderes, temos nos perdido também; ainda que nunca tenhamos desistido um do outro.

No começo assumi um compromisso comigo mesmo de ligar pra ele todos os dias. E ligava. E insisti por anos nessa rotina que nos mantinha mais próximos.
Com o passar dos anos os telefonemas foram rareando. Viraram semanais, hoje faz um mês que não nos falamos e ele me ligou. Inesperadamente meu pai me ligou.
Ele não disse que sentia minha falta, não me cobrou atenção. Não com palavras, mas mesmo com seu jeito durão e conversando sobre cervejas e churrasco, a surpresa da presença dele me derreteu por dentro.

Meu pai tem uma teoria que diz que ele se afastou pra que eu me acostumasse a viver sem ele.
Sempre pensei que isso fosse uma idéia sem sentido, desculpa esfarrapada pra quem anda dando muita cabeçada e não consegue cuidar do que mais importa.
Talvez ele esteja certo.
Dizer o que meu pai é hoje pra mim é difícil. Não saberia dizer.
Sei que até uns 20 anos ele foi o cara pra mim! Me arrastava pela sala no tapete voador da colcha estampada, brincava todas as noites comigo e com o meu irmão, construia com a gente os castelos de areia mais lindos do mundo e de certa forma vivemos em um deles boa parte da vida.

A maré subiu. As torres que ele nos ensinou a fazer com tanta paciência ruíram aos poucos.
Nos separamos e com a dor de quem vê a água entrando pelas janelas e arrastando tudo, aprendi a construir alicerces mais fortes.
Viemos eu e meu mano morar no caminho, mas longe da praia. Minha mãe também veio. É nossa vizinha. Enquanto isso, os castelos do meu pai, ainda que vazios de nós ainda seguem de areia.
Toda vez que a água vem, ele tenta driblar a maré. Se afasta um pouquinho das ondas, mas continua na areia.

Hoje, mesmo depois de tantas desconstruções ainda vejo nele, meu pai de menina: brincalhão, sonhador, pescador de peixes grandes, idéias simples. Um homem incansável e quase insuportavelmente otimista, o tempo todo.
Os anos tiraram dele a perfeição, muitos castelos e a proximidade de nós.
Mesmo assim, sempre que vejo ele sentado na areia, ainda que apenas do outro lado da linha, tenho vontade de esquecer que cresci e correr, pular no pescoço dele. Dizer pendurada num abraço o quanto os erros e a alegria dele são responsáveis pela mulher que tenho orgulho de ser.