domingo, maio 20, 2007

Cabelo

Queria palavras agudas pra reagir a gravidade.
Precisava com urgência de um grito. De eco.
Uma dose pouca, mas real de liberdade pra desejar o que não tenho.

Ontem, montei a rede num lugar diferente.
Mas as árvores nos conheciam, lembra?

De certo não lembra.
Chovia e hj era sol.

Talvez lembrasse...

Não há como saber.

Meu verbo é mudo. Seu silêncio agudo.
É noite, é grave e realmente não há como saber.

Te encontro no acaso. Acaso que é fio. Me conduz.
Eu te guardo.

Bastaria um jeito simples, jeito qualquer...
Caminho curto que me levasse até onde não sou, senão ausencia.
Mas antes seria necessário ser ausencia.
Como se sou não sei. Não sou.

Se o que falta faltasse simplesmente, eu não estaria aqui. Estaria lá.
E não haveria noite. E haveria sorrisos. E não haveria o medo - esse que não há.
Não há?

A droga é que falto eu! Onde, como e na hora que eu não poderia faltar.
Sobram motivos pra essas palavras vazias.
Tantas. Inúteis. E pra ninguém.

quinta-feira, abril 26, 2007

Sobre calos e escuro

Mta gente teme o escuro. Talvez porque seja uma das possibilidades de se ficar só, completamente sozinho consigo mesmo.
Eu não.
Tenho outros meios de me buscar, gosto de me encontrar em dias de sol.

Fico imaginando como seria a paisagem de uma perda.
Olhar que escapa.
Imagem que não revela.
Penso numa teoria da arte que seja a materialização da entrelinha.
Entrelinha pura, real: que revela sim, enquanto se perde.

Não me sinto a vontade com as perdas, elas levam pedaços da gente.
Prefiro os encontros, que nos unem ao que sempre esteve perdido, inacessível.
Mas há beleza no que se escapa. E há revelação no que não se diz.

Acho a revelação natural.
Tenho poucos segredos silenciosos de verdade. Mas sei que eles são sempre partes importantes de mim.
Ignoramos o que não entendemos.

Segredos, em suma, são faces da nossa personalidade que nos recusamos em determinados momentos a reconhecer.
Algumas revelações são realmente necessárias.

terça-feira, abril 24, 2007

Estou livre: serei verdadeiramente feliz.

Ordens de uma criança. A mais doce e a mais linda!
Sei que depois desse abraço eu sou outra, por mim e graças a ela.
Nos despedimos do medo, sorrindo. Sem culpa.
É dia de rasgar os roteiros. Rasguei.
Chega de planos!
Não precisamos mais de provas.
A vida que nos surpreenda!

Revelar

''Você já esteve num laboratório fotográfico?
Eu já. E como me fascina, naquela escuridão, poder ver tudo avermelhado!

Cada imagem que aparece naqueles papéis em branco é fruto de uma espera cuidadosa, de uma mágica que tem tempo certo pra acontecer.
Se nos apressarmos, nada vem...
Se demorarmos demais, o que vem, vem queimado.
Se houver qualquer fresta de luz por baixo da porta, ou pela violência do vento - que pode abrir a janela... tudo pode se perder.

Aprendi com a fotografia que cada revelação tem seu próprio tempo.
O tempo de acontecer, mesmo que pareça errado.
Sim, é claro, podemos violentá-la e arrancá-la às pressas, à força. E o que vem? Uma revelação estranha, quase sempre pela metade.

Mas as revelações são necessárias. São boas. São resultado da luz - que eu tanto gosto!
O contraditório é que elas só aparecem no escuro.''

segunda-feira, abril 09, 2007

Dia de estréia abençoada (SONHO)

"Sonhe com aquilo que você quiser…
Seja o que você quer ser…
Porque você possui apenas uma vida
E nela só temos uma chance de fazer aquilo que queremos.
Tenha felicidade bastante para faze-la doce,
dificuldades para faze-la forte,
tristeza para faze-la humana.
E esperança suficiente para faze-la feliz.

As pessoas mais felizes não tem as melhores coisas,
elas sabem fazer o melhor das oportunidades que aparecem em seus caminhos.
A felicidade aparece para aqueles que choram…
Para aqueles que buscam e tentam sempre…
E para aqueles que reconhecem a importância das pessoas que passam por suas vidas.
O futuro mais brilhante é baseado num passado intensamente vivido.
Você só terá sucesso na vida quando perdoar os erros e as decepções do passado.
A vida é curta, mas as emoções que podemos deixar……duram uma eternidade…"

C.Lispector

Foi com essa mensagem que a Ana Maria abriu o programa de hoje.
Programa de reestréia, programa da minha estréia.

Quem me conhece sabe o quanto Clarice é importante.
Quem me conhece um pouquinho mais sabe o quanto hoje foi importante!
Agora, quem me conhece profundamente, sabe que não acredito em coincidências. Sabe que essa mensagem tem pra mim um sentido mais do que especial.

A todos aqueles que fazem parte desse sonho, meu muitíssimo muito obrigada.
Mais que isso, quero dividir com todos essa intesa alegria!
Quero que a gente siga junto! A missão é sonhar, realizar ainda mais e cada dia melhor!

OBRIGADA DEUS!!!

segunda-feira, março 19, 2007

Ontem foi ao ar meu último Profissão Repórter

Durante um ano dividi a tela com gente importante: homens e mulheres de pouca chance, de muita luta.
Guerreiros do tipo que raramente se percebe.
Anônimos que mudaram minha vida.

Estive em lugares que ninguém sonha conhecer.
Dei voz e principalmente os ouvidos a histórias de quem caminha calado.
Caminha bastante.

Fui parcial todas as vezes.
Me envolvi.
Abracei, carinhosamente cada um de meus colegas de filme. Filme que é vida real.

Senti o peso do podão da cana, o medo da bala perdida.
A indignação.
Experimentei o calor de acordar sob a lona de circo rota.
A brisa compadecida do teto de pau a pique.
O gosto do fogareiro de Dona Doca - dona do riso mais puro.
Risada da própria risada.

Revisitei a solidão do cárcere feminino.
Caminhei com vendedores de sonhos... Batedores de balde.
Mascates de terra batida.
Encontrei a saudade e a coragem nos pais que perderam seus filhos. Descobri com eles minha mortalidade.
Ela é borboleta verde.

Fui as ruas, ao agreste, as delegacias...
Vi mulheres sangrando por dentro e por fora.
Ouvi seus agressores.
O apito do enfrentamento. Apito alto, do Morro da Conceição.
Escutei gritos também:
Os de quem briga, no porto por uma vaga na estiva; os de quem não mora, resiste por um lugar na vida - ainda que sem-teto.
Fui testemunha de Edna; dos desenhos de Ingrid, das mangas de Israel, da cura de Isadora.

Não fiz isso sozinha, tive parceiros incríveis!*
Foi um ano intenso. De muito sonho, pouco sono, pouco tempo.
Defendi cada palavra a mim confiada como um tesouro.

Não quero medalha!
Sigo adiante.
Na bagagem vai toda essa gente e a mesma inocência de quem acredita que as grandes histórias só existem dentro do coração das pessoas.

(Gratidão aos incríveis...:
- Caue Angeli, Michael Fox e Emilio Mansur pelo cuidado e capricho com nossas imagens.
- Doniste Araújo pela parceria de ilha nos dias, noites e madrugadas de luta.
- Aos melhores chefes do mundo: Marcel Souto Maior e Caco Barcellos pelas lições e pela oportunidade
- Caio Cavechini - meu companheiro nas buscas mais difíceis – por dividir comigo seu olhar curioso, fantástico; pela cumplicidade, pelas provocações e principalmente por me ajudar a quebrar os meus próprios padrões!)

E viva a nova fase!!!

sábado, março 17, 2007

Alagamos São Paulo?

"Escrevo-te porque não me entendo.
Embora escrever só esteja me dando a grande medida do silêncio.
Nada existe de mais difícil do que o entregar-se ao instante. Esta dificuldade é dor humana. É nossa.
Eu me entrego em palavras.

Não sei captar o que existe, senão vivendo cada coisa que surgir e não importa o quê.
Escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra.
O que te escrevo deve ser lido rapidamente como quando se olha.
O que te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.

O que escrevo é um só clímax?
Meus dias são um só clímax. Vivo à beira.
Cada coisa tem um instante em que ela é.
Quero apossar-me do é da coisa.
Porque ninguém me prende mais.

Agora é de novo madrugada.
Ao amanhecer eu penso que nós somos contemporâneos do dia seguinte.
E eu tinha resolvido dormir pra poder sonhar. Estava com saudades das novidades do sonho...

Domingo é o dia de ecos. De onde vem o oco do domingo?
Estou esperando a próxima fase. É questão de segundos.
Falando em segundos, pergunto se você agüenta que seja hoje e agora e já.
Sinto-me tonta como quem vai nascer.
(Você me deixa tonta)

Quero a experiência de uma falta de construção.
Não.
Não é fácil.
Mas é.
E ninguém é eu, ninguém é você. Esta é a solidão.

A palavra mais importante da língua tem uma única letra: é. É.
Sou-me.
Não se compreende música: ouve-se. Ouve-me então com teu corpo inteiro.

Ninguém me ensinou a querer. Mas eu já quero.
Levantei. Porque estou cansada de me defender.
Sou inocente.
Até ingênua porque me entrego sem garantias.
Que garantias?
Respiro de noite a energia. E tudo isto no fantástico.
Fantástico: o mundo por um instante é exatamente o que o coração pede."

C.L. e eu

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Companhia de viagem

Queria tanto ler alguma coisa. Qualquer texto que me fizesse algum sentido e preenchesse o vazio dos outros e o excesso de mim dos últimos dias.
Queria, mas por estar o livro mais próximo a dezenas de quilômetros de mim, resta-me apenas imaginação. Nela garimpo frases perdidas, não escritas... Consigo papel e caneta.
Ponho as palavras pra fora, em seqüência, como quem organiza a própria casa. Fora de casa.
Meu redor são barulhos, são ecos... Sotaques misturados, a margem do rio, Preguiças...
Quando digitar (ou não) esses pensamentos soltos, já longe daqui será no meio de dezenas de livros que vão me encarar invejosos. Essa falta de agora não existirá e talvez todas essas frases não façam mais nenhum sentido.
Não ligo. Por enquanto são pra mim mais que companhia.

domingo, janeiro 28, 2007

Sem perguntas, sem respostas

Quando se viaja sozinha, sobra tempo pra pensar em quase de tudo.
Há dias, tenho horas inteiras pra mim. É tanto tempo.
Quando estou distraída, fico prestando atenção... E há tanto pra ver.
Agora mesmo, sorri de repente. Rápido, espontâneo, bonito.
Por alguns segundos, me senti quase feliz.

Mas tenho pensado também em outras coisas, não sou egoísta. Observando as crianças, aprendo com elas.
Pequeninas, elas perguntam tudo. Não tem a vergonha da gente. Elas são curiosas, desbravam enquanto nós, adultos apenas contemplamos nossa falta de curiosidade..
Horas atrás, junto com um grupo de turistas, passeávamos na carroceria de uma caminhonete, em silêncio até que uma garota de uns seis anos fez uma pergunta. Queria saber porque o fogo era vermelho.
A mãe dela desconversou, todo mundo ficou calado, ninguém sabia.
Segundos depois, uma nova tentativa... “Mamãe, porque a gente tá tão longe, e mesmo assim sente o cheiro do fogo?” A resposta mais uma vez foi um pesado silêncio, seguido de uma bronca: “menina, você pergunta demais!”.
Também levei uma bronca, de mim. Como eu desisti dessas e de tantas outras perguntas?