sexta-feira, setembro 10, 2004

A fábula dos pedaços

Hoje tive a sensação viva de ter me perdido, e o pior é que tenho tido essa sensação frequentemente...
Primeiro um amor que adormeceu pela metade, depois alguns amigos que se perderam na mudança, agora minha irmãzinha mais querida tá de malas prontas pra ir viver no Rio... Qualquer hora acabo me perdendo de vez. Vou -me embora, vou-me embora e não há Pasárgada!
Ando pela cidade e às vezes encontro meus pedaços. Uma parte no metrô, entre a Praça da Árvore e o meu São Judas; um pedacinho no Ibirapuera; minha ingenuidade na Cidade Universitária, as pernas no Cepeusp e o cérebro revirado pelos cantinhos da Eca. Minha infância nas casas e ruelas do Belém; meus sonhos no alto de edifícios do centro. Caminho e vejo muitas partes do meu coração pela Paulista, espalhados em cada esquina procurando por mim...
Aceno pra eles, meus pedacinhos... Sinto seu gosto e chego a tocá-los. Penso em sair recolhendo um a um... Desisto. Seria impossível juntá-los. Descubro que é justamente em cada lugar desses que eu estou, e que é esta diversidade fragmentada que me faz inteira. Me entrego ao caos desse mundo chamado São Paulo e sigo deixando os pedaços. Só assim é que a cada dia me refaço.

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