Sou moça da cidade grande, mas nunca me acostumei com céu sem estrela. Cresci entre o topo de arranha-céus e a rua. Brincava de bola no meio da molecada e era a princesa no meu palácio. Minha avó fazia gemada, e trazia pra gente. Eu não gostava, mas sempre tomei. Fiquei forte, vó sabe das coisas! Houve um tempo que passei entre o campo e a cidade. Gostava do mato. Curiosa, descobri amoreiras e mamoeiros secretos. Pulava uns muros, ia pelas estradas de terra e dava nome aos passarinhos. De dia, eu ia pra escola em São Paulo. Passava as aulas sonhando com histórias, que um dia viveria, e me divertia no recreio ensinando meus amiguinhos a pegar tatu-bola no jardim. Comida de avó, barulho de sapo, capim molhado de orvalho, colo de mãe, pai herói, irmão companheiro. Mas o tempo passou...
Voltamos para a cidade e aqui eu terminei de crescer. Não cresci muito, é verdade! Mas a vida castigou um pouco, a família quase se desfez e eu virei gente grande. Reaprendi a dormir ninada pelo barulho dos carros e a andar mais rápido. Fui me acostumando a não respirar muito fundo. Comecei a usar relógio.
Vivi bem a adolescência. Fiz muitos amigos. Continuei fugindo, vez ou outra pro interior, e lá eu era ainda mais feliz. De cima dos morros eu matava a saudade da linha do horizonte. Nadava no rio e andava no mato sem medo nas noites de lua.
Cheguei à juventude madura, mas a poesia da minha criança preservou muito da minha inocência. O primeiro amor veio tarde, e partiu cedo demais. Não endureci... Continuei sonhando, e vivendo, e amando. Hoje mulher, ainda procuro as estrelas no céu escuro todos os dias, antes de fechar a janela. Vez ou outra, avisto alguma e faço um pedido – primeira estrela que vejo, realiza o meu desejo! - Coisa de criança, de criança teimosa que teima em não se acostumar com céu sem estrela.
Hoje eu não durmo enquanto não ver alguma!
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