quarta-feira, setembro 15, 2004

Coisas de não-entender

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo." (Clarice Lispector)

Amor é dessas coisas de "não-entender". Ele chega de surpresa, pega a gente desavisada e vai ficando meio sem querer. Coisa parecida com uma gripe forte, das que se pega num dia de chuva de verão... A gente molha até a alma, o espírito fica encharcado... Dá uma dor no corpo e uma coriza lascada no dia seguinte, mas quem se arrepende? Um dia a gripe passa, por pior que seja, e o que fica é a lembrança danada de boa do dia da chuva. Quem entende?
Sei que de repente chove de novo, e a gente sai correndo sem hesitar...

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