sábado, março 17, 2007

Alagamos São Paulo?

"Escrevo-te porque não me entendo.
Embora escrever só esteja me dando a grande medida do silêncio.
Nada existe de mais difícil do que o entregar-se ao instante. Esta dificuldade é dor humana. É nossa.
Eu me entrego em palavras.

Não sei captar o que existe, senão vivendo cada coisa que surgir e não importa o quê.
Escrever é o modo de quem tem a palavra como isca: a palavra pescando o que não é palavra.
O que te escrevo deve ser lido rapidamente como quando se olha.
O que te falo nunca é o que te falo e sim outra coisa.
Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.

O que escrevo é um só clímax?
Meus dias são um só clímax. Vivo à beira.
Cada coisa tem um instante em que ela é.
Quero apossar-me do é da coisa.
Porque ninguém me prende mais.

Agora é de novo madrugada.
Ao amanhecer eu penso que nós somos contemporâneos do dia seguinte.
E eu tinha resolvido dormir pra poder sonhar. Estava com saudades das novidades do sonho...

Domingo é o dia de ecos. De onde vem o oco do domingo?
Estou esperando a próxima fase. É questão de segundos.
Falando em segundos, pergunto se você agüenta que seja hoje e agora e já.
Sinto-me tonta como quem vai nascer.
(Você me deixa tonta)

Quero a experiência de uma falta de construção.
Não.
Não é fácil.
Mas é.
E ninguém é eu, ninguém é você. Esta é a solidão.

A palavra mais importante da língua tem uma única letra: é. É.
Sou-me.
Não se compreende música: ouve-se. Ouve-me então com teu corpo inteiro.

Ninguém me ensinou a querer. Mas eu já quero.
Levantei. Porque estou cansada de me defender.
Sou inocente.
Até ingênua porque me entrego sem garantias.
Que garantias?
Respiro de noite a energia. E tudo isto no fantástico.
Fantástico: o mundo por um instante é exatamente o que o coração pede."

C.L. e eu

Um comentário:

Anatália Nery (Mô) disse...

Suas palavras me inspiram!!!