Talvez pela quantidade de horas absolutamante livres de qualquer responsabilidade, ou ainda pela falta de costume ao silêncio longo, recheado apenas do barulho do mar, da conversa sempre bem vinda da minha mãe e dos gritos de estranhos, nem tão bem vindos assim... (Gente que fala alto, na maioria das vezes precisa de atenção, mas nem sempre tem muita coissa interessante a dizer.)
Ignoro a última parte, até porque a semana a beira mar anda leve e quase perfeita. Sigo na tentativa de usar essa súbita inspiração matinal. Quero escrever, mas escrever sobre o quê?
Corro pro mar e vem a resposta. Quero falar da felicidade simples que é ficar molhada na praia.
Na beiradinha, especialmente em dias quentes como hoje a água é tão fria! Muitos se acovardam e fogem. Eu teimo em ser corajosa. Penso sempre na sensação final. O mergulho completo, o desafio a mim mesma. Vem o disparo e o choque. Uma quase dor inicial, mas assim que subo da onda sou nova!
É quando paro de sentir frio, paro de sentir medo.
Até que o corpo seque sigo com essa certeza molhada de que posso tudo!
Eis a magia da praia!
Quisera que fosse sempre simples assim: que quando a coragem escorresse, bastasse um novo mergulho.
quarta-feira, setembro 22, 2010
quarta-feira, setembro 08, 2010
TUDO É SÓ ISSO
Meu pai há um bom tempo não tem merecido muitas homenagens.
Desde que meus pais se separam, uns 10 anos atrás temos nos afastado com muita velocidade.
Nessa mágica às avessas em que um herói perde aos poucos seus superpoderes, temos nos perdido também; ainda que nunca tenhamos desistido um do outro.
No começo assumi um compromisso comigo mesmo de ligar pra ele todos os dias. E ligava. E insisti por anos nessa rotina que nos mantinha mais próximos.
Com o passar dos anos os telefonemas foram rareando. Viraram semanais, hoje faz um mês que não nos falamos e ele me ligou. Inesperadamente meu pai me ligou.
Ele não disse que sentia minha falta, não me cobrou atenção. Não com palavras, mas mesmo com seu jeito durão e conversando sobre cervejas e churrasco, a surpresa da presença dele me derreteu por dentro.
Meu pai tem uma teoria que diz que ele se afastou pra que eu me acostumasse a viver sem ele.
Sempre pensei que isso fosse uma idéia sem sentido, desculpa esfarrapada pra quem anda dando muita cabeçada e não consegue cuidar do que mais importa.
Talvez ele esteja certo.
Dizer o que meu pai é hoje pra mim é difícil. Não saberia dizer.
Sei que até uns 20 anos ele foi o cara pra mim! Me arrastava pela sala no tapete voador da colcha estampada, brincava todas as noites comigo e com o meu irmão, construia com a gente os castelos de areia mais lindos do mundo e de certa forma vivemos em um deles boa parte da vida.
A maré subiu. As torres que ele nos ensinou a fazer com tanta paciência ruíram aos poucos.
Nos separamos e com a dor de quem vê a água entrando pelas janelas e arrastando tudo, aprendi a construir alicerces mais fortes.
Viemos eu e meu mano morar no caminho, mas longe da praia. Minha mãe também veio. É nossa vizinha. Enquanto isso, os castelos do meu pai, ainda que vazios de nós ainda seguem de areia.
Toda vez que a água vem, ele tenta driblar a maré. Se afasta um pouquinho das ondas, mas continua na areia.
Hoje, mesmo depois de tantas desconstruções ainda vejo nele, meu pai de menina: brincalhão, sonhador, pescador de peixes grandes, idéias simples. Um homem incansável e quase insuportavelmente otimista, o tempo todo.
Os anos tiraram dele a perfeição, muitos castelos e a proximidade de nós.
Mesmo assim, sempre que vejo ele sentado na areia, ainda que apenas do outro lado da linha, tenho vontade de esquecer que cresci e correr, pular no pescoço dele. Dizer pendurada num abraço o quanto os erros e a alegria dele são responsáveis pela mulher que tenho orgulho de ser.
Desde que meus pais se separam, uns 10 anos atrás temos nos afastado com muita velocidade.
Nessa mágica às avessas em que um herói perde aos poucos seus superpoderes, temos nos perdido também; ainda que nunca tenhamos desistido um do outro.
No começo assumi um compromisso comigo mesmo de ligar pra ele todos os dias. E ligava. E insisti por anos nessa rotina que nos mantinha mais próximos.
Com o passar dos anos os telefonemas foram rareando. Viraram semanais, hoje faz um mês que não nos falamos e ele me ligou. Inesperadamente meu pai me ligou.
Ele não disse que sentia minha falta, não me cobrou atenção. Não com palavras, mas mesmo com seu jeito durão e conversando sobre cervejas e churrasco, a surpresa da presença dele me derreteu por dentro.
Meu pai tem uma teoria que diz que ele se afastou pra que eu me acostumasse a viver sem ele.
Sempre pensei que isso fosse uma idéia sem sentido, desculpa esfarrapada pra quem anda dando muita cabeçada e não consegue cuidar do que mais importa.
Talvez ele esteja certo.
Dizer o que meu pai é hoje pra mim é difícil. Não saberia dizer.
Sei que até uns 20 anos ele foi o cara pra mim! Me arrastava pela sala no tapete voador da colcha estampada, brincava todas as noites comigo e com o meu irmão, construia com a gente os castelos de areia mais lindos do mundo e de certa forma vivemos em um deles boa parte da vida.
A maré subiu. As torres que ele nos ensinou a fazer com tanta paciência ruíram aos poucos.
Nos separamos e com a dor de quem vê a água entrando pelas janelas e arrastando tudo, aprendi a construir alicerces mais fortes.
Viemos eu e meu mano morar no caminho, mas longe da praia. Minha mãe também veio. É nossa vizinha. Enquanto isso, os castelos do meu pai, ainda que vazios de nós ainda seguem de areia.
Toda vez que a água vem, ele tenta driblar a maré. Se afasta um pouquinho das ondas, mas continua na areia.
Hoje, mesmo depois de tantas desconstruções ainda vejo nele, meu pai de menina: brincalhão, sonhador, pescador de peixes grandes, idéias simples. Um homem incansável e quase insuportavelmente otimista, o tempo todo.
Os anos tiraram dele a perfeição, muitos castelos e a proximidade de nós.
Mesmo assim, sempre que vejo ele sentado na areia, ainda que apenas do outro lado da linha, tenho vontade de esquecer que cresci e correr, pular no pescoço dele. Dizer pendurada num abraço o quanto os erros e a alegria dele são responsáveis pela mulher que tenho orgulho de ser.
quarta-feira, agosto 04, 2010
a ilha PEQUENITA
Ela reinava absoluta na porta da casinha pau-a-pique. De lá estranhou nossa chegada. Correu pra dentro. Sumiu do meu alcance. Só consegui desarmá-la com o argumento que justificava a visita. Disse que tinha vindo de muito longe em busca de tempo: um único dia.
Pequenita estranhou o pedido esquisito, afinal tempo era o que ela mais tinha. Há anos, talvez desde sempre sobravam-lhe as horas.
Mesmo desconfiada daquela jovem, que era eu, PEQUENITA liberou as fronteiras. Me guiou por um mundo cercado pelo Rio São Francisco sem relógio e sem eletricidade, onde ironicamente tudo só acontece se realmente for necessário e na hora certa.
Deu fome, fomos pra canoa. A escolha da natureza, pescamos piranhas.
Era o que tinha e foi o que nos satisfez. Cozinhamos o peixe na água do rio, pinicamos, sim pq pinicar é preciso e ajuda a diminuir o risco de engasgar com os espinhos. PINICAR... Um verbo quase intraduzível que aprendi a conjugar na marra e na ponta da faca afiada. Sob o olhar atento de PEQUENITA, que se ria toda de minha inexperiência, e a essa altura me dava o primeiro sinal de afeição.
Quanto a mim? Como não se apegar àquela mulher? E como me apegaria nas próximas horas!
PEQUENITA tomou banho de rio, de vestido e tudo. Sem vergonha de mim, ou da câmera. E assim, sem pudor de viver como se deve me mostrou como se vive.
Pilão Arcada foi abandonada há mais de 30 anos, mas está tudo lá. Foram horas de caminhada pelas ruínas de uma cidade que desde então é toda dela. A igreja, as ruas, o que sobrou das casas, o vazio ganhava forma na medida da memória e da Imaginação Pequenita.
O pôr do sol no cruzeiro, no ponto mais alto do que um dia foi cidade me deu a dimensão da ilha. Uma benção divina traduzida na oração da rainha desse pedaço de Brasil, que naquele momento certamente ao pedir por ela, agradecia por nós. Aquela melodia mágica, de joelhos ajudava a explicar pra DEUS o que palavra nenhuma é capaz de dizer.
quarta-feira, junho 30, 2010
OS FILHOS QUE NÃO SÃO NOSSOS
Sabe quando um filho fica doente, ou mesmo passa por alguma tristeza? Quando a dor dói tanto no outro que você pensa num jeito de evitar que machuque de todo jeito?
Pois é, ainda não tenho filhos, mas acho que conheci esse sentimento.
Quando precisei visitar, testemunhar e traduzir o sofrimento de Alagoas depois da cheia, meu coração teve dois impulsos. O primeiro foi o de doer muito, a dor que doía neles.
Depois, quase que imediatamente veio a resignação - a mesma de um pai que sabe que não pode tomar a dor de um filho. Seria a dor roubada uma dor inútil e o peso do roubo insuportável.
Depois, quase que imediatamente veio a resignação - a mesma de um pai que sabe que não pode tomar a dor de um filho. Seria a dor roubada uma dor inútil e o peso do roubo insuportável.
Entre os flagelados da cheia do sertão havia desespero sim, mas também muita força.
Tanta que na viagem de volta, as ruínas não me assombram. Nem o choro, nem a chuva, nem a miséria.
Os sorrisos, a alegria pura que só é possível quando nada se tem, mesmo que tudo se perca - essa sim viaja comigo.
Impotente como quem cresce, volto pra casa orgulhosa dos filhos que não são meus.
sexta-feira, junho 18, 2010
A VIAGEM DE SARAMAGO
Assim que soube da partida de Saramago, procurei por ele.
Saramago não estava. Nem nos sites, nem nas notícias.
As manchetes que li e foram muitas falavam de um escritor, de um homem premiado, um Nobel de literatura.
Páginas e páginas vazias de qualquer ensaio sobre o que esse homem realmente é.
Queria encontrar o José Saramago que antes de morrer, viveu.
Fez isso em muitos lugares, especialmente numa ilha. E Canárias, mais que um endereço foi ninho.
Isso não está nas manchetes fúnebres, desinteressantes. Assim como José não está nelas e por isso escrevo.
Não pra me despedir, porque não nos depedimos de quem não morre.
Escrevo pra encontrar um amigo. Alguém que nunca me viu e que tanto me conhece.
Falo do José de Pillar que descobriu o amor depois dos 60 e viveu quase 27 anos enamorado.
Do rapaz português que nasceu numa vila e aprendeu a ler sozinho pra provocar o mundo. Me provocar.
Busquei e busquei palavras a altura de quem tanto me abriu os olhos, me desenvagelizou.
Aqui estão elas, poucas, orgulhosas e agradecidas.
Simples como o jeito que ele me conquistou.
Eternas porque quem escreve não morre.
Como ousadia, peço a ele emprestadas suas palavras escritas ainda hoje, pouco antes da partida.
Não são as últimas, porque pra quem lê, tem sempre o poder de serem as primeiras.
"Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma".
Saramago não estava. Nem nos sites, nem nas notícias.
As manchetes que li e foram muitas falavam de um escritor, de um homem premiado, um Nobel de literatura.
Páginas e páginas vazias de qualquer ensaio sobre o que esse homem realmente é.
Queria encontrar o José Saramago que antes de morrer, viveu.
Fez isso em muitos lugares, especialmente numa ilha. E Canárias, mais que um endereço foi ninho.
Isso não está nas manchetes fúnebres, desinteressantes. Assim como José não está nelas e por isso escrevo.
Não pra me despedir, porque não nos depedimos de quem não morre.
Escrevo pra encontrar um amigo. Alguém que nunca me viu e que tanto me conhece.
Falo do José de Pillar que descobriu o amor depois dos 60 e viveu quase 27 anos enamorado.
Do rapaz português que nasceu numa vila e aprendeu a ler sozinho pra provocar o mundo. Me provocar.
Busquei e busquei palavras a altura de quem tanto me abriu os olhos, me desenvagelizou.
Aqui estão elas, poucas, orgulhosas e agradecidas.
Simples como o jeito que ele me conquistou.
Eternas porque quem escreve não morre.
Como ousadia, peço a ele emprestadas suas palavras escritas ainda hoje, pouco antes da partida.
Não são as últimas, porque pra quem lê, tem sempre o poder de serem as primeiras.
"Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma".
sábado, abril 03, 2010
Uma mensagem
Acabo de assisitir ao filme de Chico Xavier.
Isso mesmo, coincidência, ou não foi no dia 2 de abril. Aniversário dele.
Recebi uma lição de amor. Eu e um cinema inteiro de gente encantada com o poder do amor.
Fico pensando no tamanho da ansiedade de tantas almas procurando seu ouvido, alguns instantes de lápis e papel.
Quando a vida acaba, ou melhor quando cada vida acaba, por mais longa que seja deve mesmo dar uma sensação de quero mais. Um minuto que seja, um recado, uma palavra não dita.
São tantas as horas, os dias e os anos vividos e pronto, sempre falta aquela oportunidade.
Sei que nunca será o bastante, mas costumo dizer eu te amo todos os dias.
De tanto que eu falo essas e outras palavras talvez nem soem mais importantes.
Sigo dizendo ainda que assim.
O desprendimento de Chico Xavier foi tão grande na missão de distribuir a paz, que ele mesmo conta que nunca teve.
Ele viveu como um surdo que empresta os ouvidos pra quem nunca escutou uma bela música, ora foi
cego, que dá os próprios olhos pra quem ainda que são e de óculos vivia longe da luz.
Estou tímida, nesse teclado que não é sequer esboço de papel e lápis.
Admirada por todas as vidas tocadas por ele, escritas e eternas, todas em busca da grande MENSAGEM.
Isso mesmo, coincidência, ou não foi no dia 2 de abril. Aniversário dele.
Recebi uma lição de amor. Eu e um cinema inteiro de gente encantada com o poder do amor.
Fico pensando no tamanho da ansiedade de tantas almas procurando seu ouvido, alguns instantes de lápis e papel.
Quando a vida acaba, ou melhor quando cada vida acaba, por mais longa que seja deve mesmo dar uma sensação de quero mais. Um minuto que seja, um recado, uma palavra não dita.
São tantas as horas, os dias e os anos vividos e pronto, sempre falta aquela oportunidade.
Sei que nunca será o bastante, mas costumo dizer eu te amo todos os dias.
De tanto que eu falo essas e outras palavras talvez nem soem mais importantes.
Sigo dizendo ainda que assim.
O desprendimento de Chico Xavier foi tão grande na missão de distribuir a paz, que ele mesmo conta que nunca teve.
Ele viveu como um surdo que empresta os ouvidos pra quem nunca escutou uma bela música, ora foi
cego, que dá os próprios olhos pra quem ainda que são e de óculos vivia longe da luz.
Estou tímida, nesse teclado que não é sequer esboço de papel e lápis.
Admirada por todas as vidas tocadas por ele, escritas e eternas, todas em busca da grande MENSAGEM.
sábado, fevereiro 06, 2010
30 Minutos
As hélices ligadas sacodem o bloco, a página e eu.
Faz sol, já estamos em Bauru e o destino é Araçatuba.
Seis anos depois ir não é como voltar.
O assento a direita está vazio, mas nele viaja uma jovem. A mesma que cruzou o estado sete anos atrás, leve de mochila nas costas, com todos os sonhos do mundo.
Nos olhamos nos olhos. Ela encara humilde meu orgulho, que é dela. Ele me transborda.
Com a simplicidade que também é minha viajamos juntas.
Como medir a coragem que já se teve?
Nada me dói. Antes na estrada, hoje no céu, já somos vitória.
Sou cada memória dela, ela é toda minha esperança.
A 30 minutos de rever o começo, nos damos as mãos.
Mais que isso, ela viaja agora dentro de mim.
Somos sonhos, voz e asas. Somos gratidão.
Faz sol, já estamos em Bauru e o destino é Araçatuba.
Seis anos depois ir não é como voltar.
O assento a direita está vazio, mas nele viaja uma jovem. A mesma que cruzou o estado sete anos atrás, leve de mochila nas costas, com todos os sonhos do mundo.
Nos olhamos nos olhos. Ela encara humilde meu orgulho, que é dela. Ele me transborda.
Com a simplicidade que também é minha viajamos juntas.
Como medir a coragem que já se teve?
Nada me dói. Antes na estrada, hoje no céu, já somos vitória.
Sou cada memória dela, ela é toda minha esperança.
A 30 minutos de rever o começo, nos damos as mãos.
Mais que isso, ela viaja agora dentro de mim.
Somos sonhos, voz e asas. Somos gratidão.
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