Hoje eu vi uma multidão que gritava uma dor que fingia ser sua, e que de fato o era, mas eles não sabiam. Protestavam pedindo melhores salários, conduzidos, como de costume, por palavras e homens de ordens.
Havia muita gritaria, pouca emoção.
A verdade não estava em palavra alguma. Estava nos olhares miseráveis, de quem já se acostumara com pouco pão, com pouco sonho.
Enquanto tentava fugir delas, as palavras, para que não me traíssem, olhava alguns olhos. Foi um exercício e tanto, porque anda cada vez mais difícil esse negócio de olhar nos olhos!
Fitava os manifestantes.
Alguns abaixavam a cabeça, mas encontrei olhares corajosos. Feitos de uma coragem medrosa, escondida em sorrisos tímidos, ou mais uma vez nelas, as palavras. Mas há mesmo metafísica demais em pensar o mundo. Deixei de lado os porquês e por um instante me permiti não entender.
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