...choveu muito e eu que sempre vi poesia na chuva, descobri que ela é maior que qualquer clichê.
Falar de esperança é falar de simplicidade. Quanto mais sofisticado o ser humano, maior o vazio.
Há pouca vibração dentro de casas com piscina. Pouco diálogo ao redor de taças cheias. Prefiro o falar alto da esquina. O barulho da carne na grelha improvisada, do anel da lata de cerveja.
Há tanta verdade na pobreza!
Descobri que em quem sente a barriga doer de fome e dorme com medo da água invadir a casa, a alma e levar tudo embora está uma das maiores verdades da chuva.
Ela está no susto da madrugada, na enxurrada que devora os ralos e entra em tudo. Está no rodo cansado, no esgoto que encarde o dia, leva os móveis, a saúde, mas nunca a esperança.
Fica escondida no olhar triste, na piada do vizinho.
Lá dentro da geladeira vazia, que dessa vez, a chuva não levou.
Na lágrima contida que evapora devagar, como a água. Na fé que se conforma com o pouco que sobra. No pouco que é tudo. Na força que torna a dor em força e faz o dia nascer simples, com menos tudo, mas nunca sem ela: sim! de novo, a esperança.
(Aos moradores do bairro Umuarama, de Araçatuba, que nunca lerão esse texto, mas que me ensinaram tanto sobre a beleza da chuva.)
segunda-feira, abril 25, 2005
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